quarta-feira, 1 de maio de 2024

1º de maio I Dia do Trabalhador - Piso salarial é uma questão política e sindicatos têm grande importância na sua definição

 Gazeta da Torre

Para professora, Luciana Morilas, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP,  “piso” não deve ser confundido com salário mínimo, pois valoriza a carreira do trabalhador, já que “empregadores querem sempre aumentar lucros e cortam primeiro os salários”

Para encontrar o valor do piso salarial não existe uma equação padrão, depende de negociações políticas e estudos prévios, que são realizados pelos sindicatos das categorias. O “piso” deve ser proporcional à complexidade e extensão do trabalho, mas como definir essa complexidade? A especialista conta que essa não é uma tarefa fácil.

“A partir de pesquisas de valor médio de remuneração, os sindicatos avaliam se é um valor justo para aquela categoria profissional e fazem uma proposta através de acordos e convenções coletivas de trabalho, que podem ou não ser aprovadas e assinadas por entidades sindicais patronais ou empresas individualizadas,” explica Luciana.

Quando definido pelo sindicato de determinada categoria, o piso salarial só tem validade para a área de abrangência daquele sindicato. Isso faz com que cada Estado ou região tenha um valor diferente de piso salarial de determinada categoria profissional, mas sempre maior que o salário mínimo.

O piso pode ser definido também através de leis federais e estaduais, como no caso do profissional de Enfermagem, que foi definido a partir de uma lei federal. Quando definido através dessa lei, o valor estabelecido vale para todo o território nacional e não apenas para determinado Estado.

Ainda que seja definido através de leis, o papel dos sindicatos é de grande importância, ressalta Luciana. “Os detalhes do dia a dia são conhecidos por quem trabalha e os sindicatos é que contam com essa expertise; então, na maioria das vezes, quem vai auxiliar na definição são os próprios sindicatos das categorias”, por isso é muito importante que as categorias de trabalhadores se unam; “individualmente é muito mais difícil negociar, sempre vai ter alguém que trabalhe por menos”, adianta.

Impacto na contratação

Apesar de muitos entenderem que a definição do piso salarial gera um impacto negativo na contratação de trabalhadores, Luciana acredita que, ao definir esse valor, não existe a possibilidade de contratação de um profissional daquela categoria por um valor menor do que o definido. Dessa forma, o empregador é obrigado a pagar o piso salarial, valorizando aquele trabalho.

A discussão sobre esse tema é extensa e com controvérsias. Enquanto alguns acreditam que cada trabalhador é responsável por negociar seu próprio salário, sem a interferência de terceiros, outros destacam que a realidade não é essa. “Os empregadores querem sempre aumentar sua margem de lucro e o que eles cortam em primeiro lugar é sempre o salário do trabalhador”, afirma Luciana.

São raras as vezes, segundo a especialista, em que o empregador pensa em investimentos para a melhoria da profissão e foi nesse contexto que o Brasil decidiu em 1988, com a promulgação da atual Constituição Federal, criar regras de proteção aos trabalhadores, como o piso salarial e o salário mínimo. A especialista acredita que o impacto dessas medidas é positivo, “vai gerar trabalhadores mais satisfeitos e, portanto, serviços executados com mais qualidade”.

Fonte: Jornal da USP

- divulgação -

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