Gazeta da Torre
Lucas Novaes, professor no Insper |
O símbolo mais delineado da democracia passa por uma
transformação importante no mundo todo, uma vez que as eleições não têm mais
garantido que os interesses da classe trabalhadora sejam representados da forma
como deveriam — e isso afeta profundamente o modo como as políticas públicas
são criadas. Segundo Lucas Novaes, PhD em Ciência Política e professor no Insper, isso ocorre em razão da falta de uma
força organizadora que consiga transmitir as preferências das camadas mais pobres
para o sistema político.
Na sua avaliação, o fato se dá, dentre outras razões, por
causa da redução do trabalho formal no “chão da fábrica” e da inexistência de
um setor que consiga aglutinar os interesses da classe trabalhadora urbana, de
forma que esta possa organizar um grande número de eleitores com força política
e exigir que suas demandas sejam atendidas pelos agentes políticos a longo
prazo. “Não só no Brasil, mas em outras partes do mundo, está ocorrendo uma
disparidade de como os interesses são postos dentro do processo de criação das
políticas públicas. Precisamos ter atenção sobre como os interesses serão
representados a partir de agora no sistema político, principalmente da classe
mais numerosa, mas silenciosa”, sinaliza Novaes.
“Como contraponto, interesses de grupos menores, mas mais
poderosos e com maior capacidade de organização, conseguem manter a sua
influência no sistema político, particularmente no Congresso”, adverte o
cientista. Independentemente do que tem ocorrido, as entidades que se mostram
mais próximas dos eleitores pobres são as igrejas evangélicas, cada vez mais
inseridas na política e com capacidade de mobilizar os fiéis para que defendam
interesses próprios.
Em entrevista comandada por Mônica Sodré, cientista
política e diretora da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps), ao
Canal UM BRASIL — Novaes ainda comenta que, apesar de todos os problemas, é na
política que encontraremos a solução. “Quando as pessoas começam a imaginar que
não há saída dentro do próprio sistema é que as ideias extremas ganham força —
as quais capturam mais facilmente essa inquietação social”, enfatiza.
Fonte: UM Brasil
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