Gazeta da Torre
Arte Jornal da USP |
Os jogos olímpicos de Tóquio 2021 terá a maior
representação feminina na história dos jogos. 48,8% dos atletas que irão
competir são do gênero feminino, sendo que todas as delegações de participantes
terão ao menos uma atleta em sua delegação. O Comitê Olímpico Internacional
(COI) prevê que na edição de Paris em 2024 essa marca chegue a 50% de todos os
atletas. Esse aumento inclusivo de atletas do gênero feminino, vem acontecendo
nos últimos anos devido a adoção de medidas por parte do comitê para combater a
desigualdade de gênero no meio esportivo e atingir os objetivos propostos pela
ONU.
“O COI, nos últimos 30 anos, vêm fazendo movimentos a fim
de melhorar o cenário para todo mundo”, conta William Santana, aluno do
programa de pós-graduação em ciências de atividade física da Escola de Artes,
Ciências e Humanidades da USP. Ele é um dos autores de um artigo que analisa as
ações promovidas pelo COI de acordo com o objetivo de desenvolvimento
sustentável de igualdade de gênero da Agenda 2030 da ONU, que foi premiado em
um evento organizado pelo comitê olímpico da Guatemala juntamente com a UNESCO.
Através da análise de documentos disponibilizados pelo comitê, os autores
procuram entender as medidas promovidas e avaliar a efetividade e execução
delas.
Competições mista
Entre as medidas adotadas, uma delas está na inclusão e
aumento de esportes de gênero misto nos jogos. Tratam-se de competições em que
atletas de ambos os gêneros competem na mesma categoria. Na edição de Tóquio
dos 306 eventos planejados, 18 iram ser de gênero misto, representando 5,4% de
todas as competições. William comentou um pouco sobre como se deu a introdução
desse tipo de competição nos jogos: “Eles criaram Jogos Olímpicos da Juventude
para dar oportunidade pros atletas treinarem. O COI está testando todas as
possibilidades de esporte misto nesses jogos, e eles vão mudando a cada
edição”.
Nos jogos olímpicos da juventude de 2018, dos 239 eventos
que ocorreram, 21 deles eram categorias mistas, algo em torno de 8,7%. Em
questão de representação feminina entre os atletas, os jogos da juventude
atingiram a marca de 50%. Segundo William, o COI se aproveita da baixa
visibilidade que os jogos da juventude, e usa isso para testar o funcionamento
de diferentes categorias e métodos que possam aumentar a participação feminina
nos jogos. O evento acaba sendo como uma espécie de indicativo quais são os
caminhos que o COI deve tomar para o futuro dos jogos. “Esporte é uma vitrine,
então tudo que acontece no esporte se tende a refletir na sociedade”, comenta
William.
Em contrapartida, em seu artigo, os autores ressaltam que
enquanto medidas são feitas para aumentar a participação feminina em todas as
categorias, ainda existem categorias em que os homens são vetados de
participar. Um exemplo é a ginástica rítmica que, apesar de alguns países
reconhecerem a ginástica masculina como categoria esportiva, a Federação Internacional
de Ginástica (FIG) não reconhece a modalidade. Para William, casos como esse
mostram como a questão da igualdade afeta os dois lados de forma diferente. Ele
destaca que a falta de aceitação dessas modalidades masculinas em esportes
exclusivamente femininos demonstra um preconceito e homofobia em torno dessas
situações.
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Participação feminina nas olimpíadas
A participação feminina foi permitida desde cedo nos
jogos olímpicos da era moderna, com algumas limitações. Desde 1900, na
Olimpíada de Paris foi permitida a participação de atletas nas competições,
junto com os homens e sem direito a receberem medalhas caso ganhassem a prova.
Somente na Olimpíada de Amsterdã, em 1928, houve a inclusão da categoria
feminina de atletismo com condecoração iguais às das categorias masculina. De
acordo com William, houve um crescimento gradativo, por mais que lento, da participação
feminina nos jogos.
Na década de 90, a participação feminina era em torno de
30% de todos os participantes. “Em 2012, na edição londrina do evento, pela
primeira vez, foi permitido às mulheres competirem em todas as modalidades,
com a
inclusão do boxe,
e todas as delegações
participantes tiveram em suas delegações pelo menos uma mulher”, destaca
William para destacar a evolução dos níveis de participação nos jogos.
Por outro lado, na Olimpíada do Rio, em 2016, só 11% por
cento de toda a delegação técnica era composta por mulheres, independente do
esporte, incluindo categorias exclusivas femininas, como a ginástica rítmica.
De acordo com William, isso demonstra uma carência de medidas inclusivas tanto
na parte administrativa dos jogos quanto nos comitês técnicos.
A inclusão de mulheres nos quadros administrativos
começou tardiamente na história dos jogos, somente em 1981, a norueguesa Pirjo
Haggman e a venezuelana Flor Isava-Fonseca assumiram funções internas no COI,
sendo os dois primeiros membros do sexo feminino a participarem do Comitê, após
75 anos de sua fundação. Na década de 90, a participação feminina dentro do COI
representava somente 1% do quadro administrativo. Isso fez com que o COI
adotasse medidas que promovessem o aumento dessa participação. Segundo com
William, a adoção dessas medidas, num período de dez anos, fez com que a
participação aumentasse em 124% em comparação ao cenário anterior. Atualmente,
a participação feminina representa 35% dos cargos executivos dentro do COI.
De acordo com dados disponibilizados pelo COI em 2015, a
representação feminina nos comitês olímpicos nacionais é de cerca 19,9%.
Olhando para o cenário brasileiro, dos 13 cargos que compõem o conselho
administrativo do Comitê Olímpico do Brasil (COB), somente um cargo é ocupado
por uma mulher. No caso se trata da presidente da Comissão de Atletas do COB,
Yane Marques. Na comissão de atletas, metade de seu quadro é ocupado por
esportistas mulheres. No entanto, a Comissão de Atletas possui um poder muito
mais relacionado com a sugestão de medidas de acordo com a demanda dos atletas
de cada esporte, do que poder decisivo.
O cenário de representação diminui ainda mais analisando
os quadros executivos das confederações esportivas do Brasil. Das 52
confederações, apenas duas são presididas por mulheres. Entre elas estão a
Confederação de Ginástica, cuja atual presidente é Maria Luciene Cacho Resende,
e a Confederação Brasileira De Remo, cuja atual presidência é de Magali Moreira,
que assumiu o cargo este ano.
William ressalta a importância em torno da discussão de
gênero para que haja melhorias nos processos inclusivos das mulheres, nas
esferas do esporte. Para ele é importante que haja uma autocrítica por parte
dos membros do COI e outras entidades esportivas, majoritariamente composta por
homens, para que mudanças efetivas possam ser tomadas para mudar esse cenário.
Fonte:Jornal
da USP
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