Na imagem (Foto:Silvio Botelho) a peça 'Haru - A primavera do aprendiz', foi
apresentada em março/2020 no Recife. O espetáculo mescla teatro e ilusionismo.
Ele se passa em uma barraca de feira, em um lugar que mistura realidade e
ficção.
A pandemia do novo coronavírus atingiu em cheio a
indústria cultural brasileira, que, em grande parte, depende de plateias e
aglomerações em espaços fechados, e que já arrastava uma crise por cortes
orçamentários e falta de políticas públicas.
Leandro Valiati, especialista em economia da cultura da
UFRGS e da Queen Mary University de Londres, acredita que as atividades
culturais são precisamente as que vão liderar a retomada econômica
pós-pandemia. Segundo ele, o aumento da tendência do streaming, por exemplo,
abre portas para o consumo de mais produções brasileiras em todo o mundo, eliminando
os custos do entorno físico. O especialista alerta, no entanto, que isso também
representa um risco para a cultura popular. “Se não garantirmos sua
sobrevivência, quando tudo está migrando para o digital, vamos perder parte de
nossa riqueza cultural. A política pública tem que dar conta dessa exclusão
digital. Todo o fluxo do turismo que ajudava a sustentar parte da cultura
popular foi parado. Por isso, são necessárias políticas para garantir um
equilíbrio no mercado. Pensar, por exemplo, em como taxar as plataformas de
streaming para financiar a cultura popular”, propõe.
Perguntado sobre a tendência de lives —shows online que
cantores e bandas têm feito em parceria com diversas marcas durante a
quarentena—, Valiati diz que ainda faltam formas de monetização desse modelo e
que a lógica de patrocínio só funciona para artistas já consolidados, com
grande número de seguidores nas redes sociais.
Funcionaria para as artes cênicas ou outras atividades?
Lelo Filho, ator e produtor teatral, duvida. “Acho lindo quando dizem que o artista
tem que se reinventar, mas, primeiro, o artista tem que fazer conta para
sobreviver. O povo acha que artista vive de luz. E produzir em casa vai ser
tudo, menos teatro. Fora que a gente concorre com live de Ivete, super
produzida, com luz super boa, e com a Netflix, né. O diferencial do teatro é
justamente a emoção ao vivo, é você gargalhar de doer a bochecha ou sair
arrepiado por um drama”, lamenta.
Enquanto a solução não chega, mais coletivos se organizam
para sobreviver, em todos os sentidos, ao novo coronavírus. A pianista e
compositora Júlia Tygel criou A Nossa Música, projeto em que as podem
encomendar uma música instrumental ou canção, a partir de um mote, que será
composta e depois executada através de um vídeo de aproximadamente um minuto, por
artistas que fazem parte de um coletivo formado para a iniciativa. Já o diretor
de fotografia Azul Serra, ao saber que amigos do audiovisual passam por
dificuldades, criou a ONG Plano Sequência, onde é possível comprar imagens
autorais a partir de 250 reais. Como diz Leandro Valiati, "a ciência e a
cultura são o que vão salvar a gente”.
Artigo de Joana Oliveira, jornalista multimídia com experiência em política e economia.
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