Gazeta da Torre
A hashtag BookTok, que geralmente acompanha os vídeos de
indicações de livros, já acumula mais de 200 bilhões de visualizações
A hashtag BookTok, que geralmente acompanha os vídeos dos
influenciadores, já acumula cerca de 206 bilhões de visualizações. Mas a
popularidade das obras não fica restrita ao universo digital. Colleen Hoover,
autora norte-americana, se tornou um fenômeno do TikTok graças à divulgação de
suas obras na plataforma. A autora possui uma hashtag própria – ColleenHoover
–, que acumula mais de 4 bilhões de visualizações.
De acordo com o portal PublishNews, ‘É Assim que Acaba’,
livro de Colleen lançado em 2016, foi o segundo livro mais vendido de 2023. A
autora ainda aparece no ranking em 3° lugar, com o livro ‘É Assim que Começa’,
lançado em 2022, e em 14° lugar, com Verity, de 2018. Em 2022, Colleen
conseguiu emplacar sete livros no ranking, e conquistou o 1°, 4°, 9°, 15°, 17°,
18° e o 20° lugar, o que equivale a quase 300 mil cópias vendidas.
A venda de obras de Colleen foi diretamente influenciada
pelos vídeos de booktokers. Aline Frederico, professora de Editoração da Escola
de Comunicações e Artes (ECA) da USP, explica que é típico das comunicações de
massa que certos grupos tenham grande poder de influência – e grande número de
seguidores – e que consigam gerar certo impacto através de suas recomendações.
“É assim que funciona também no caso dos livros: a gente
vai ter alguns booktokers, instagrammers, booktubers que vão estar envolvidos
nesse mundo literário, fazendo indicação de livros, e tem então essa capacidade
de dar atenção para determinados títulos, e com isso fazer o número de
exemplares vendidos aumentar”, explica Aline.
O BookTok e as redes sociais, no geral, são uma grande
ferramenta para ajudar na divulgação de obras literárias, mas não são um definidor
para o sucesso de um livro. “São determinados nichos de mercado, determinados
grupos e audiências que fazem um uso sistemático das mídias sociais e nesses
grupos as mídias sociais têm impacto maior nos resultados de vendas no mercado
editorial. Mas isso não vai acontecer com todas as obras, com todos os nichos,
geralmente são inclusive casos isolados”, exemplifica a professora.
Fórmula mágica?
Para Aline, o movimento de divulgação de obras nas redes
sociais depende de condições específicas, como as tendências que estão em alta
no momento, do que está sendo falado e quem são os influenciadores que
divulgarão os livros, por exemplo; também, se a obra em questão dialoga com uma
audiência usuária de redes sociais, a professora acredita que certamente a
divulgação na internet terá mais impacto. Porém, isso depende muito do
público-alvo do livro.
Nos Estados Unidos, antes das mídias digitais, o
“fenômeno Oprah” funcionava como um forte impulsionador de vendas. “Quando a
Oprah divulga um livro no programa dela, é muito certo que ele vai aumentar o
volume de venda significativamente, e hoje a gente vê isso nas redes sociais
com os influenciadores digitais”, aponta.
Dessa forma, a professora acredita que um fator que
influencia os livros a virarem um fenômeno das redes sociais – além de
encontrar a pessoa certa para realizar essa divulgação – é que o livro aborde
questões que estão sendo comentadas no momento, e que ele seja capaz de cativar
os leitores.
De acordo com Josmar Andrade, professor de Marketing da
Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), do mestrado profissional
Empreendedorismo da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e
Atuária (FEA) e assessor da Agência USP de Inovação, para que a divulgação de
livros seja bem-sucedida, é preciso identificar o público-alvo e entender como
esse grupo adquire informações sobre a obra literária – se é através das redes
sociais, se eles frequentam os pontos de venda, se é através da indicação de um
crítico.
Além disso, Andrade pontua a importância do engajamento
do próprio autor nesse processo. “Muitos autores não gostam muito dessa questão
de autopromoção, não gostam muito dessa palavra – às vezes vista como certo
pejorativo, não gostam muito de lidar com o mercado – mas nós estamos vivendo
um outro mundo, e esse outro mundo exige uma nova postura. Você quer ter
leitores? Você precisa se conectar com eles”, explica.
Por isso, se o público-alvo de uma obra estiver nas
redes, é interessante que o autor ofereça conteúdos e crie certa intimidade com
os leitores. Essa, de acordo com o professor, é uma estratégia que pode
aumentar sua aceitação, visibilidade e potencialmente criar os fenômenos, que
são construídos através das recomendações entre pessoas.
Fases de divulgação
O mercado da literatura é amplo e possui vários segmentos
e subdivisões, que podem ser organizados de acordo com faixas etárias –
literatura infantil, infantojuvenil, jovem adulta, adulta. Dessa forma, cada
grupo terá uma estratégia própria de divulgação.
No entanto, como explica Aline, de forma geral é possível
estabelecer algumas fases importantes para a divulgação de uma obra. A primeira
é o momento do lançamento do livro, que geralmente é acompanhado de um evento
que movimenta um grupo de pessoas interessadas naquele título e que normalmente
marca um pico de vendas – a depender, segundo a professora, das características
da obra.
Depois, outro aspecto importante pontuado pela professora
é o envio do livro para formadores de opinião. “Tradicionalmente, esses
formadores de opinião são a imprensa especializada, tanto revistas literárias
como a grande imprensa, principalmente os jornais e revistas de grande
circulação. Mas, hoje em dia, também a gente tem nas redes sociais muitos
grupos formadores de opinião”, explica.
Esse processo depende do segmento das obras: se o livro
divulgado é classificado como young adult – jovens adultos, em português –, a
audiência é fortemente consumidora de mídias sociais. Dessa forma, os
formadores de opinião escolhidos devem, preferencialmente, atuar na internet,
por exemplo. Por outro lado, segundo Aline, a literatura mais tradicional será
mais divulgada no circuito da produção cultural da crítica literária, em
revistas como Rascunho, Quatro Cinco Um, e cadernos de cultura dos grandes
veículos de imprensa.
Por fim, a participação em feiras e eventos literários
também é um fator relevante, segundo a professora. “O autor não termina o
trabalho quando ele termina de escrever o livro e ele é publicado. Ele vai,
então, ter uma agenda de divulgação da obra seguindo o calendário dos eventos
literários”, aponta.
Andrade explica que uma obra literária é um produto como
qualquer outro que busca seu público consumidor. A divulgação do livro pode ser
realizada através da assessoria de imprensa e matérias, por exemplo. “Também é
possível, hoje em dia pelo mercado digital, a gente dar destaque ao livro
dentro dos próprios sites das livrarias e dos marketplaces como a Amazon”,
aponta. Anúncios e estratégias de venda física também podem ser realizados.
Fonte: Jornal da USP
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