Gazeta da Torre
O economista Heron do Carmo |
Quando pensa-se vencida, ela ressurge das cinzas. A
inflação foi um dos principais problemas econômicos do Brasil em 2021, situação
que não é novidade para um país que, ao longo de sua história, enfrentou
diversos períodos de alta contínua dos preços. Contudo, somente a partir da
Nova República, quando a população passou a votar diretamente para presidente,
o que era até então convivência cedeu lugar para medidas contundentes de
combate à inflação, de acordo com Heron do Carmo, professor sênior da Faculdade
de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo
(FEA/USP) e membro do Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP) da
Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
Em entrevista a plataforma UM BRASIL, uma realização da
FecomercioSP, Carmo, reconhecido como um dos maiores especialistas em inflação
do País, diz que, historicamente, o Brasil se acostumou com índices
inflacionários superiores à média mundial. No decorrer do século 20, inclusive,
diversos governos optaram por mecanismos que permitiam conviver com a alta dos
preços, em vez de freá-la.
“No Brasil, já no Império, havia uma inflação mais alta.
Teve também, nas várias fases da República, uma inflação acima da [média] do
resto do mundo. E, a partir da Segunda Guerra Mundial, vivemos um processo
inflacionário com algumas pequenas interrupções”, resume o economista. “Acontece
que, no Brasil, o objetivo da política econômica não era controlar a inflação,
no sentido de reduzi-la. Era controlar no sentido de que não tivesse uma
tendência persistente de alta muito rápida. Então, foram adotadas aqui políticas
gradualistas”, acrescenta.
De acordo com Carmo, a manutenção do poder de compra da
moeda ganha outros contornos quando a classe política percebe que é uma
“questão importante do ponto de vista do eleitorado”. Deste modo, inflação
controlada se tornou elemento fundamental para o sucesso da política econômica.
“O [então] futuro presidente Fernando Henrique Cardoso
saiu de suplente do Senado e chegou aonde chegou [com o Plano Real]. O presidente
[José] Sarney, que era desconhecido do eleitor, se consagrou na Assembleia
Constituinte [de 1987]. O [Fernando] Collor acabou sendo eleito numa situação
de inflação descontrolada. A reeleição do presidente Lula ocorreu como
consequência não só do crescimento, mas de uma inflação baixa”, cita o
economista. “Então, inflação e atividade econômica são fundamentais para o
desempenho político”, pontua.
Em períodos de inflação alta, Carmo salienta que o mais
importante é a perspectiva da trajetória do nível de preços. Sendo assim, “a
política econômica tem de ser apertada para não permitir que se repita a dose
no período seguinte”, do contrário, “entra-se num processo difícil de
reverter”.
Além disso, o especialista reforça que o estrato mais
pobre da população é o mais penalizado pela alta contínua dos preços.
“Ouso afirmar que uma parte da resistência da
desigualdade na sociedade brasileira se deve também ao comportamento da
inflação. O País cresceu muito durante um tempo, mas sem que aquilo se refletisse
numa redução mais expressiva da desigualdade, em parte justamente devido ao
fenômeno inflacionário”, destaca o economista.
*Entrevista na íntegra no Canal UM BRASIL (YouTube).
Fonte: UM Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário