Por Arilza Soares
Brinquedos artesanais do box Minha Comadre no Mercado da Madalena |
Com a proximidade do Natal, o vento sopra na direção das
feiras livres e mercados populares do Nordeste brasileiro, incluindo até nosso
Mercado da Madalena, mais precisamente no box Minha Comadre. É a busca dos brinquedos
populares, que até hoje fazem sucesso entre as nossas crianças. Em todo
Nordeste, há uma grande produção de objetos artesanais bem populares,
caracterizados pela simplicidade, sendo alguns deles centenários, que
acompanham gerações. A marca do artesão e de sua criatividade está presente nos
brinquedos encontrados. É grande a variedade deles, desde os carrinhos de
madeira ou lata, bonecas de pano, marionetes, manés-gostosos, róis-róis, piões,
pipas, petecas, e rodas-gigantes, entre outros.
Com o advento da revolução industrial, diminuiu a demanda
artesanal e a sociedade passou a consumir os brinquedos industrializados, com
novas formas e roupagens. A Era Digital parece afastar, cada vez mais, a criança
desse mundo artesanal. No entanto, apesar desse avanço tecnológico, o brinquedo
artesanal continua com a sua identidade cultural, agindo de forma interativa no
mundo de fantasia da criança, aproximando-a da realidade social em que vive e
encantando todas as gerações e classes sociais.
A magia do artesanato de brinquedos, confeccionados com
os mais diversos materiais, mostra ainda itens das mais tradicionais culturas
populares e outros com roupagem mais sofisticadas e atraentes. São eles:
O Mané-Gostoso - Um boneco com movimento nas pernas e nos
braços que se agitam puxados por um cordão. Os movimentos são feitos pela mão
do seu manipulador, no qual o boneco fica de cabeça pra baixo e com uma perna
na cabeça. É também conhecido por outros nomes, como: Mané-Besta,
Mané-Bestalhão, Mané-Coco, Mané de Souza.
A mula manca - Um brinquedo confeccionado em madeira
leve, com as características de uma burrinha com os membros (pernas, pescoço e
cauda). É colocada sobre uma base e tencionada por meio de fios ligados a uma
espécie de mola localizada na base, que quando é pressionada pelos dedos, a
burrinha se movimenta para todos os lados.
O rói-rói - Um pequeno brinquedo confeccionado com uma
caixinha cilíndrica, fechada numa das extremidades, de onde um pequeno cordão
de sisal encerado com breu é ligado a um pedaço de madeira. Em movimentos
giratórios, a fricção provoca um ruído que ressoa na caixinha, funcionando como
amplificador. É um brinquedo muito popular em feiras e mercados públicos do
Nordeste. Em alguns lugares, é conhecido como Berra-Boi e Cigarra.
A peteca - Um brinquedo que possui uma base, geralmente
feita de borracha, que concentra a maior parte do seu peso, e uma extensão mais
leve, feita de penas naturais ou sintéticas, com o objetivo de dar equilíbrio
ou orientar sua trajetória no ar, quando arremessada. Segundo registros
históricos, a peteca é uma herança indígena, pois mesmo antes da chegada dos
portugueses, os nativos já jogavam peteca como forma de recreação,
paralelamente, aos seus cantos e suas danças.
A boneca de pano - As bonecas estiveram presentes em
todas as civilizações. Em cavernas pré-históricas de diversas partes do Mundo,
foram encontradas pequenas bonecas esculpidas em pedra.
No Brasil, enquanto as crianças da Côrte brincavam com
bonecas europeias, a de pano, adquiriu forma entre as filhas dos escravos. A
boneca de pano parece ser um dos poucos brinquedos populares, construídos de
maneira artesanal que ainda consegue resistir aos intensos “golpes” da
indústria de brinquedos que tem, nos meios de comunicação de massa, um forte
aliado para a venda de brinquedos que seduzem crianças e adultos, mas nem
sempre condizentes com o contexto brasileiro.
Vale lembrar que a produção de bonecas de pano não se
restringe ao Nordeste brasileiro. Em quase todo país é possível encontrar a
produção dessas bonecas com características de cada região.
Em diferentes cidades e lugarejos do Nordeste, existem
mãos que se movimentam e dão vida e voz a personagens, nos tradicionais Teatro
de João Redondo (Rio Grande do Norte) ou Teatro de Mamulengo (Pernambuco). Contando histórias
engraçadas sobre assuntos sérios, esses bonecos também são conhecidos como
"fantoches", "marionetes" ou títeres.
Os fantoches são feitos de madeira, metal, papel, palha
etc. São vestidos a caráter. Geralmente, cada boneco recebe o seu nome e a sua
personalidade. Assim, o chorão, o briguento, o covarde, o valente, o bondoso, todos
sempre se apresentam com seus predicados, pelos quais se tornam conhecidos.
Além dos personagens humanos, há também bichos, entre os quais se destaca o
jacaré.
Os bonecos são manejados pelos artistas de maneiras
distintas: com varinhas, cordões e diretamente pela mão do artista, que é
introduzida dentro do fantoche (o polegar vai a um dos braços, o indicador no
orifício da cabeça e o dedo médio faz o movimento do outro braço). A voz é de
quem o maneja.
Carrinho de madeira - Com sucatas industriais (latas de
leite, óleo, doce ou refrigerante), sobras de madeira, tinta, além de
ferramentas simples, como a bigorna, alicate, ferro de solda e martelo, os
artesãos confeccionam, com muita criatividade e destreza, carrinhos de brinquedos de vários modelos: ônibus,
carros de corrida, locomotivas, carretas, tudo em cores vibrantes e atraentes.
“Nós transformamos pedaços de madeira em algo que faz os
olhos das crianças brilharem”, define Nilo Sérgio, artesão de 57 anos. “Isso [o
brinquedo artesanal] não vai morrer nunca, porque faz as crianças brincarem
juntas, desenvolverem suas próprias histórias”, avalia.
Além de tirar, dessa atividade, o sustento da família, o
artesão ainda recebe outro pagamento. “É o sorriso deles. Não tem preço ver uma
criança brincando com algo que você fez”, completa.
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