segunda-feira, 31 de março de 2014

Alunos do ensino médio têm dificuldades de argumentar

É o que revela um estudo desenvolvido na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP que analisou o modo como a argumentação é tratada nos livros didáticos de escolas públicas do ensino médio de Ribeirão Preto, além de textos dissertativo-argumentativos produzidos por estudantes do terceiro ano do ensino médio que frequentam essas escolas.

De acordo com a autora do estudo, a pedagoga Noemi Lemes, a ausência de uma teoria da argumentação e a imposição do discurso jornalístico pelo livro didático faz apenas a reprodução das opiniões e dos sentidos trazidos pela mídia. “O que a gente defende é que não deve circular apenas texto jornalístico dentro da escola. Ele também é um texto que deve ser usado, mas ele não dispensa a teoria e não pode ser o único tipo de texto a ser usado dentro da sala de aula, principalmente dentro da escrita argumentativa”.

Segundo a pesquisa, os órgãos de imprensa que possuem textos mais presentes nos livros didáticos são as revistas Veja, Época e Superinteressante, além de jornais, como a Folha de S.Paulo e o Estado de S.Paulo. Neles, não se encontram nada da mídia que não seja tradicional, nem de movimentos sociais.

Noemi afirma que textos científicos também deveriam ser usados para constituir o aluno como formador de opinião, pois, normalmente, o estudante é exposto a apenas uma opinião, enquanto que o correto seria o aluno ter contato com textos acordes e discordes. “Por exemplo, se o assunto é o aborto, o aluno deveria ter contato com leis, para que ele interaja com textos de leis, com textos científicos sobre o aborto, que são mais acadêmicos e o jornalístico também. Dessa forma, o estudante entraria em contato com uma diversidade de opiniões, uma diversidade de sentidos produzidos sobre o determinado tema”, diz a pedagoga.

Ela defende a argumentação não apenas para que o aluno possa produzir um texto bom, pensando no vestibular. A argumentação, defende, “não deve circular apenas na disciplina de língua portuguesa, ela é um conhecimento importante até para a formação do aluno enquanto sujeito crítico atuante no meio político, no ambiente social; a argumentação deve ser entendida como um direito do sujeito”.


Fonte: Noemi Lemos – USP

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