Gazeta da Torre
Este dia é um convite para reviver o mistério da Cruz,
percorrendo o caminho de Jesus ao calvário, e para contemplar, no silêncio e na
oração, o sofrimento de Cristo que se entregou por nós. "O mistério não é
Pascal se não passar pela dor, por essa esperança silenciada que nasce do alto
da cruz. Amor e morte caminham pelas mesmas estradas. A celebração desse dia
fala com o vazio, a nudez, o silêncio, o absurdo da vida capturada do
inocente", afirma Pe. Maicon Malacarne, da diocese de Erexim/RS.
É na Sexta-feira Santa que revivemos o mistério da Paixão
do Senhor. Um dia - o segundo do Tríduo Pascal - para santificar com jejum e
penitência, e para contemplar, no silêncio e na oração, a entrega de Jesus por
nós através da condenação, prisão, paixão e morte na cruz. Uma cruz que
simbolicamente é venerada neste dia ao ser apresentada solenemente à
comunidade. O mistério do Crucificado é celebrado num grande silêncio pela
Igreja, que é de respeito e gratidão pelo caminho de Cristo feito até a sua
morte na cruz, salvando o mundo do pecado e abrindo o caminho da vida eterna.
O Padre Maicon A. Malacarne da diocese de Erexim/RS,
pároco da paróquia São Cristóvão, aprofunda assim a celebração da Sexta-feira
da Paixão do Senhor, ao refletir:
"Kafka escreveu que “existe esperança e uma
esperança infinita, mas não para nós”. A
melancolia do escritor parece se abater sobre todos. A Sexta-Feira Santa habita
a tragédia da vida. O mistério não é Pascal se não passar pela dor, por essa
esperança silenciada que nasce do alto da cruz. Amor e morte caminham pelas
mesmas estradas. A celebração desse dia fala com o vazio, a nudez, o silêncio,
o absurdo da vida capturada do inocente."
O também mestre e doutorando em Teologia Moral pela
Pontifícia Academia Alfonsiana de Roma, além de professor na Itepa Faculdades
de Passo Fundo/RS, faz referência ao Ano Jubilar que procura iluminar a vida
dos fiéis com o convite a 'Peregrinar na esperança' porque 'a esperança não
engana' (Rm 5,5). O Papa Francisco resgatou a imagem da âncora, acrescenta Pe.
Maicon, um símbolo da esperança, para 'compreender a estabilidade e a segurança
que possuímos no meio das águas agitadas da vida, se nos confiarmos ao Senhor
Jesus. As tempestades nunca poderão prevalecer, porque estamos ancorados na esperança
da graça, capaz de nos fazer viver em Cristo, superando o pecado, o medo e a
morte' (Spes non confundit, n. 25).
Peregrinos da adoração e da esperança
A morte de Cristo na cruz nos faz lembrar dos sofrimentos
e males que afligem o ser humano em todos os tempos. Mas a Sexta-Feira Santa
também é uma oportunidade para despertar a nossa fé e fortalecer a esperança
para carregar a nossa cruz, confiando em Deus e em sua vitória. De fato, o Pe.
Maicon afirma:
"Quando finda a esperança, finda também a confiança,
finda o amor. A cruz, hoje, parece o fim! A esperança vilependiada. Os
peregrinos perderam a estrada, perderam a sede, perderam o mapa. Quando tudo
parece não fazer mais sentido, novamente a cruz aparece: 'Vinde, adoremos!',
convida a celebração, 'Vinde, adoremos!', 'Vinde, adoremos!'. O madeiro da dor
altera o ritmo das coisas: uma procissão, um beijo, um toque, o nosso jeito de
adorar! E quanto ainda precisamos aprender a adorar, tocar a fronteira do fim
como 'peregrinos da adoração'.
A esperança, hoje, alcança a desesperança. A 'menina
ligeira', esperança do poeta Charles Péguy, ensina que, hora ou outra, é
preciso voltar para trás, dar as mãos para a desesperança, contemplar o nada,
acolher o absurdo. Aqui está a humildade da esperança, ela sabe que é pequena,
frágil, fugidia e precisa dar as mãos para a fé e o amor para ser
peregrina."
“A morte de Jesus, o enigma da escuridão, guarda a
potência da esperança: a salvação está à espreita.”
A solidariedade a tantos crucificados
Reviver o mistério da Paixão de Cristo significa também
buscar significado para os acontecimentos dolorosos da nossa história. Por
isso, devemos ser solidários com as situações dramáticas que afligem tantos
irmãos no mundo, vítimas da maldade humana, da injustiça e da violência.
"Hoje é o dia de olhar a tragédia de frente, e fazer
de novo e de novo com a solidariedade a tantos crucificados! A repetição, fazer
de novo, é a realidade, é 'a seriedade da existência', escreveu o Soren
Kierkegaard. A Sexta-Feira Santa assinala na carteira de identidade, como marca
distintiva de todo seguidor de Jesus, a necessidade de 'enfrentar toda
desesperança', acreditar, acreditar 'apesar de...', se erguer e se colocar à
caminho. 'A esperança vê o que será. No tempo e na eternidade. Ou seja: o futuro
da própria eternidade' (Charles Péguy)."
Fonte: Vatican News
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