Gazeta da Torre
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Entre os grupos mais vulneráveis às ondas de calor estão os idosos |
O calor extremo pode causar infartos, derrames, falência
cardíaca e episódios graves de desidratação. A professora da Faculdade de Saúde
Pública (FSP) da USP, Helena Ribeiro, destaca que esse clima dilata os vasos
sanguíneos e exige mais do coração e, para uma pessoa que já possui problemas
cardiológicos, o risco de colapso aumenta. Segundo a especialista,
entre os grupos mais vulneráveis às ondas de calor estão os idosos com mais de
65 anos, pessoas com doenças cardiovasculares e respiratórias, diabéticos e
crianças
No caso das crianças, Helena Ribeiro afirma que a
vulnerabilidade se dá principalmente pela desidratação rápida. Além disso, o
calor excessivo pode prejudicar o desempenho escolar. “Temos notado que as
salas muito quentes aumentam a letargia, a irritabilidade e dificultam o
aprendizado. O calor afeta o desempenho cognitivo”, explica.
“No geral, há uma queda de temperatura à noite causada
por ventos ou chuvas e é nesse momento que o corpo consegue se recuperar do
estresse térmico durante o dia. Contudo, se a temperatura permanece alta à
noite, as pessoas tendem a ficarem mais cansadas, porque acumula o cansaço pelo
calor com a falta de descanso noturno. Então o calor durante a noite tende a
ser o mais prejudicial”, declara.
Diante das condições severas de temperatura é necessário
a busca por mecanismos de adaptação e mitigação do calor, como os equipamentos
de ar-condicionado, por exemplo. No entanto, Helena Ribeiro conta que a
instalação desenfreada desses dispositivos é envolta em controvérsias, já que é
uma solução cara e que agrava a crise climática ao consumir muita energia e
liberar ar quente nas cidades.
Uma outra questão preocupante e, ao mesmo tempo,
paradoxal é a ausência de vitamina D em moradores de locais ensolarados. De
acordo com a docente, isso ocorre porque as pessoas evitam a exposição solar em
dias muito quentes. “Essa deficiência de vitamina D é vista atualmente como uma
espécie de pandemia e pode inclusive elevar os índices de depressão”, alerta.
Problemas
Diante das condições severas de temperatura é necessário
a busca por mecanismos de adaptação e mitigação do calor, como os equipamentos
de ar-condicionado, por exemplo. No entanto, Helena Ribeiro conta que a
instalação desenfreada desses dispositivos é envolta em controvérsias, já que é
uma solução cara e que agrava a crise climática ao consumir muita energia e
liberar ar quente nas cidades.
Uma outra questão preocupante e, ao mesmo tempo,
paradoxal é a ausência de vitamina D em moradores de locais ensolarados. De
acordo com a docente, isso ocorre porque as pessoas evitam a exposição solar em
dias muito quentes. “Essa deficiência de vitamina D é vista atualmente como uma
espécie de pandemia e pode inclusive elevar os índices de depressão”, alerta.
Abastecimento
Segundo Pedro Roberto Jacobi, professor do Instituto de
Energia e Ambiente (IEE) e supervisor no Programa USP Cidades Globais, do
Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, as ondas de calor vêm se tornando
cada vez mais frequentes e intensas como resultado de processos climáticos
extremos que afetam diferentes partes do mundo, incluindo o Brasil.
Além disso, quando há um bloqueio atmosférico, as frentes
frias se formam, tentam avançar, mas encontram
barreiras que as deslocam para o oceano. Sem a entrada da umidade que
provoca as frentes frias, a massa de ar quente aumenta no continente,
provocando mais ondas de calor.
Essa nova realidade impõe impactos no consumo de energia
elétrica, especialmente com o aumento do uso de aparelhos como o ar-condicionado,
e pressiona as redes de distribuição, que muitas vezes não suportam a demanda
crescente. O problema é ainda mais grave em áreas de infraestrutura precária,
onde o fornecimento de energia elétrica já enfrenta limitações.
De acordo com o especialista, as ondas de calor não
impactam diretamente as redes de energia, mas intensificam as tempestades. Ele
explica que o excesso de calor na atmosfera provoca a formação de tormentas e
tempestades com raios, que danificam a rede elétrica e causam quedas de energia
em várias regiões das cidades. “Esse processo ocorre principalmente porque as
redes elétricas não são subterrâneas. Caso fossem, não teríamos esse problema”,
enfatiza.
Já em relação ao abastecimento de água, Jacobi revela que
o impacto das ondas de calor ocorre diretamente. Ele explica que essas ondas,
quando acompanhadas por períodos de baixa pluviosidade, reduzem
significativamente os níveis dos reservatórios. Em São Paulo, embora o último
verão tenha sido caracterizado por muitas chuvas, o abastecimento de água é
comprometido em períodos de pouca precipitação.
Desigualdades
A cidade de São Paulo, com seus mais de 11 milhões de
habitantes, e uma região metropolitana que soma 22 milhões, é extremamente
sensível aos eventos climáticos extremos. Jacobi afirma que a cidade não está
preparada para lidar com essas situações. “Poucas cidades estão. Falta
planejamento e adaptação da infraestrutura”, critica.
Os especialistas convergem ao destacar que os transtornos
provocados pelas ondas de calor afetam de forma desigual os moradores da
cidade. Jacobi reforça que as diferenças nas condições de moradia são centrais
para entender o impacto das ondas de calor. Nas periferias, as casas
frequentemente não têm ventilação adequada, são construídas com materiais que
retêm calor e não contam com equipamentos de refrigeração. Isso aumenta o risco
de problemas de saúde, como desidratação.
A arborização urbana, um dos principais mecanismos
naturais para mitigar o calor, está em processo de deterioração. Segundo Jacobi,
as árvores caem com mais frequência nos períodos de tempestades ou são
removidas por medo de quedas, o que agrava o problema. Esse cenário é
preocupante, porque a substituição das árvores não é uma tarefa simples, já que
leva tempo para seu crescimento .
Estratégias
Como medidas individuais de mitigação ao calor, Helena
Ribeiro indica evitar exposição ao sol nas horas mais quentes, manter-se bem
hidratado e procurar ambientes refrigerados sempre que possível. Se a
Prefeitura não disponibilizar espaços adequados, as pessoas podem recorrer a
shoppings, bibliotecas ou centros comunitários com ar-condicionado.
Pedro Jacobi também chama a atenção para experiências
internacionais que podem inspirar ações no Brasil. Em cidades europeias como
Barcelona estão sendo criados abrigos climáticos em escolas e espaços públicos
para proteger a população mais vulnerável durante ondas de calor. No Brasil,
ele afirma que as iniciativas ainda são tímidas, mas começam a surgir, como o
projeto Abrigos Climáticos, realizado em parceria entre universidades e
Prefeituras.
O projeto é desenvolvido na cidade de Santos e um dos
líderes é Pedro Torres, professor da Unesp de São Vicente e do Programa de
Pós-Graduação em Ciência Ambiental (Procam) do IEE. A iniciativa busca
justamente adaptar espaços para funcionar como refúgios em dias de calor
extremo. “São iniciativas de baixo custo, que podem salvar vidas quando bem
implementadas, principalmente nas áreas mais prejudicadas. A periferia é a mais
afetada, tanto pelo calor quanto pelas chuvas fortes. A falta de arborização e
de infraestrutura adequada agrava a vulnerabilidade dessas regiões”, destaca
Jacobi.
Já pela parte governamental, Helena enfatiza que é
importante o uso de estratégias baseadas na natureza, como criação de parques e
arborização urbana. “Essas são medidas coletivas, acessíveis e com efeitos
comprovados no bem-estar das pessoas, mas não há solução mágica para um
problema como esse. É preciso pensar em políticas públicas integradas, com foco
na equidade social, planejamento urbano e adaptação às mudanças climáticas”,
conclui Helena.
Fonte:Jornal da USP
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