segunda-feira, 21 de abril de 2025

Os grupos mais vulneráveis às ondas de calor

 Gazeta da Torre

Entre os grupos mais vulneráveis
às ondas de calor estão os idosos

O calor extremo pode causar infartos, derrames, falência cardíaca e episódios graves de desidratação. A professora da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, Helena Ribeiro, destaca que esse clima dilata os vasos sanguíneos e exige mais do coração e, para uma pessoa que já possui problemas cardiológicos, o risco de colapso aumenta. Segundo a especialista, entre os grupos mais vulneráveis às ondas de calor estão os idosos com mais de 65 anos, pessoas com doenças cardiovasculares e respiratórias, diabéticos e crianças

No caso das crianças, Helena Ribeiro afirma que a vulnerabilidade se dá principalmente pela desidratação rápida. Além disso, o calor excessivo pode prejudicar o desempenho escolar. “Temos notado que as salas muito quentes aumentam a letargia, a irritabilidade e dificultam o aprendizado. O calor afeta o desempenho cognitivo”, explica.

“No geral, há uma queda de temperatura à noite causada por ventos ou chuvas e é nesse momento que o corpo consegue se recuperar do estresse térmico durante o dia. Contudo, se a temperatura permanece alta à noite, as pessoas tendem a ficarem mais cansadas, porque acumula o cansaço pelo calor com a falta de descanso noturno. Então o calor durante a noite tende a ser o mais prejudicial”, declara.

Diante das condições severas de temperatura é necessário a busca por mecanismos de adaptação e mitigação do calor, como os equipamentos de ar-condicionado, por exemplo. No entanto, Helena Ribeiro conta que a instalação desenfreada desses dispositivos é envolta em controvérsias, já que é uma solução cara e que agrava a crise climática ao consumir muita energia e liberar ar quente nas cidades.

Uma outra questão preocupante e, ao mesmo tempo, paradoxal é a ausência de vitamina D em moradores de locais ensolarados. De acordo com a docente, isso ocorre porque as pessoas evitam a exposição solar em dias muito quentes. “Essa deficiência de vitamina D é vista atualmente como uma espécie de pandemia e pode inclusive elevar os índices de depressão”, alerta.

Problemas

Diante das condições severas de temperatura é necessário a busca por mecanismos de adaptação e mitigação do calor, como os equipamentos de ar-condicionado, por exemplo. No entanto, Helena Ribeiro conta que a instalação desenfreada desses dispositivos é envolta em controvérsias, já que é uma solução cara e que agrava a crise climática ao consumir muita energia e liberar ar quente nas cidades.

Uma outra questão preocupante e, ao mesmo tempo, paradoxal é a ausência de vitamina D em moradores de locais ensolarados. De acordo com a docente, isso ocorre porque as pessoas evitam a exposição solar em dias muito quentes. “Essa deficiência de vitamina D é vista atualmente como uma espécie de pandemia e pode inclusive elevar os índices de depressão”, alerta.

Abastecimento

Segundo Pedro Roberto Jacobi, professor do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) e supervisor no Programa USP Cidades Globais, do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, as ondas de calor vêm se tornando cada vez mais frequentes e intensas como resultado de processos climáticos extremos que afetam diferentes partes do mundo, incluindo o Brasil.

Além disso, quando há um bloqueio atmosférico, as frentes frias se formam, tentam avançar, mas encontram  barreiras que as deslocam para o oceano. Sem a entrada da umidade que provoca as frentes frias, a massa de ar quente aumenta no continente, provocando mais ondas de calor.

Essa nova realidade impõe impactos no consumo de energia elétrica, especialmente com o aumento do uso de aparelhos como o ar-condicionado, e pressiona as redes de distribuição, que muitas vezes não suportam a demanda crescente. O problema é ainda mais grave em áreas de infraestrutura precária, onde o fornecimento de energia elétrica já enfrenta limitações.

De acordo com o especialista, as ondas de calor não impactam diretamente as redes de energia, mas intensificam as tempestades. Ele explica que o excesso de calor na atmosfera provoca a formação de tormentas e tempestades com raios, que danificam a rede elétrica e causam quedas de energia em várias regiões das cidades. “Esse processo ocorre principalmente porque as redes elétricas não são subterrâneas. Caso fossem, não teríamos esse problema”, enfatiza.

Já em relação ao abastecimento de água, Jacobi revela que o impacto das ondas de calor ocorre diretamente. Ele explica que essas ondas, quando acompanhadas por períodos de baixa pluviosidade, reduzem significativamente os níveis dos reservatórios. Em São Paulo, embora o último verão tenha sido caracterizado por muitas chuvas, o abastecimento de água é comprometido em períodos de pouca precipitação.

Desigualdades

A cidade de São Paulo, com seus mais de 11 milhões de habitantes, e uma região metropolitana que soma 22 milhões, é extremamente sensível aos eventos climáticos extremos. Jacobi afirma que a cidade não está preparada para lidar com essas situações. “Poucas cidades estão. Falta planejamento e adaptação da infraestrutura”, critica.

Os especialistas convergem ao destacar que os transtornos provocados pelas ondas de calor afetam de forma desigual os moradores da cidade. Jacobi reforça que as diferenças nas condições de moradia são centrais para entender o impacto das ondas de calor. Nas periferias, as casas frequentemente não têm ventilação adequada, são construídas com materiais que retêm calor e não contam com equipamentos de refrigeração. Isso aumenta o risco de problemas de saúde, como desidratação.

A arborização urbana, um dos principais mecanismos naturais para mitigar o calor, está em processo de deterioração. Segundo Jacobi, as árvores caem com mais frequência nos períodos de tempestades ou são removidas por medo de quedas, o que agrava o problema. Esse cenário é preocupante, porque a substituição das árvores não é uma tarefa simples, já que leva tempo para seu crescimento .

Estratégias

Como medidas individuais de mitigação ao calor, Helena Ribeiro indica evitar exposição ao sol nas horas mais quentes, manter-se bem hidratado e procurar ambientes refrigerados sempre que possível. Se a Prefeitura não disponibilizar espaços adequados, as pessoas podem recorrer a shoppings, bibliotecas ou centros comunitários com ar-condicionado.

Pedro Jacobi também chama a atenção para experiências internacionais que podem inspirar ações no Brasil. Em cidades europeias como Barcelona estão sendo criados abrigos climáticos em escolas e espaços públicos para proteger a população mais vulnerável durante ondas de calor. No Brasil, ele afirma que as iniciativas ainda são tímidas, mas começam a surgir, como o projeto Abrigos Climáticos, realizado em parceria entre universidades e Prefeituras.

O projeto é desenvolvido na cidade de Santos e um dos líderes é Pedro Torres, professor da Unesp de São Vicente e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental (Procam) do IEE. A iniciativa busca justamente adaptar espaços para funcionar como refúgios em dias de calor extremo. “São iniciativas de baixo custo, que podem salvar vidas quando bem implementadas, principalmente nas áreas mais prejudicadas. A periferia é a mais afetada, tanto pelo calor quanto pelas chuvas fortes. A falta de arborização e de infraestrutura adequada agrava a vulnerabilidade dessas regiões”, destaca Jacobi.

Já pela parte governamental, Helena enfatiza que é importante o uso de estratégias baseadas na natureza, como criação de parques e arborização urbana. “Essas são medidas coletivas, acessíveis e com efeitos comprovados no bem-estar das pessoas, mas não há solução mágica para um problema como esse. É preciso pensar em políticas públicas integradas, com foco na equidade social, planejamento urbano e adaptação às mudanças climáticas”, conclui Helena.

Fonte:Jornal da USP

- anúncio -

Nenhum comentário:

Postar um comentário