Gazeta da Torre
É a partir da perspectiva de que não há ligações entre a
celebração do Halloween e a cultura brasileira que, em 2003, apresentou-se um
projeto de lei para que, no dia 31 de outubro, fosse celebrado no Brasil o Dia
do Saci, um dos mais conhecidos personagens do folclore nacional. A data foi
oficializada em 2010, no País.
Bruno Baronetti, pesquisador e doutorando em História
Social pela USP, vê o Dia do Saci como uma resposta à indústria cultural
americana em um momento no qual filmes de grandes franquias, com personagens do
imaginário do Halloween, como os vampiros, começavam a ganhar força.
“Além disso, havia uma percepção de que cada vez mais
escolas do ensino básico valorizavam o Dia das Bruxas no modelo
norte-americano”, aponta. Tendo o Brasil um folclore muito rico, com lendas e
histórias vindas da miscigenação entre diversos povos, o que é próprio da nossa
formação como País, foi colocado em questão: “Por que não promover uma reflexão
sobre o papel da cultura nacional?”.
O Saci é uma lenda que traz tradições principalmente do
Sul e do Sudeste do Brasil, mas apresenta características intrínsecas à
formação do Brasil. “O Saci é um jovem negro, com seu cachimbo, um elemento
indígena. Algumas cidades do Brasil começaram a fazer festas para essas lendas
do folclore nacional no dia 31 de outubro.
O pesquisador explica que os estudos folclóricos no
Brasil, desde o início do século 20, por meio do Movimento Folclórico
Brasileiro, e grandes estudiosos, como Mário de Andrade e Edison Carneiro,
buscam a inserção desses temas nas escolas. “O Dia do Saci tem o papel de
estímulo, de resgate da nossa cultura, e é justamente um contraponto a esse
projeto colonizador e imperialista que busca inserir aqui esses elementos
alheios à nossa cultura.”
“A ideia não é acabar com o Halloween, mas criar um
contraponto para que as crianças, além da tradição estrangeira, já conhecida,
passem a ter contato também com tradições e culturas nacionais”, conclui o
historiador, resgatando um pensamento de Plínio Marcos, dramaturgo brasileiro,
dizendo que “um povo que não ama e preserva as suas formas de expressão mais
autênticas jamais será um povo livre”.
Jornal da USP
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