Gazeta da Torre
Uma das formas mais fáceis de entender a sustentabilidade
é através do tripé social, econômico e ecológico. Mas não apenas por meio dele.
Segundo o Relatório Brundtland, Nosso Futuro Comum de 1988, poderia ser
compreendido por meio de um tipo específico de desenvolvimento: aquele que
satisfaz as necessidades dos presentes de forma a não comprometer, de forma
alguma, as habilidades das gerações futuras de satisfazerem as suas.
Ou seja: podemos pensá-la de uma forma ou de outra, mas
ainda sim o resultado seria igual: a moda (como a conhecemos hoje) promove de
forma inegável sentidos antagônicos (e, diga-se de passagem, paradoxais) à
sustentabilidade. E por mais que este alarme tenha sido disparado anos atrás,
parece que nós como consumidores e a indústria como produtores, insistimos em
não o ouvir.
Moda versus Consumo
Segundo uma pesquisa realizada pelo Taboo in Fashion, 30%
das roupas produzidas nunca são vendidas. Ou seja, 3 em cada 10 peças de roupas
não são compradas. E o pior? Enquanto 1 em cada 5 que consumimos são
descartadas sem nunca terem sido usadas, 12,8 mil toneladas de peças são
enviadas a aterros sanitários de forma anual (ShareCloth).
Nesse sentido fica muito claro dizer que cada vez mais, e
a partir de supostas necessidades, compramos o que não precisamos e
incentivamos a produção (incessante) de um amontoado de coisas sem valor. Por
quê? Porque quanto mais consumidos mais a indústria produz. E consequentemente,
quanto mais ela produz, mais compramos sem nem ao menos refletir sobre o que
estamos de fato levando para casa.
E é nessa relação de produção e consumo, ambos
respaldados pela valorização do culto ao novo, que a conta não fecha. Pelo
contrário. Nos deixou (e há algum tempo) em uma dívida tremenda para com o
Planeta. Culpa da moda? Sim, a culpa é dela, mas também de relações
superficiais.
Sustentabilidade x Relações Superficiais
Quando compramos algo, majoritariamente estamos comprando
com base em uma relação extremamente superficial: a do ter. Quando estamos
focados em ter algo (ou no caso, uma peça de roupa) apenas pelo desejo incessante
de o possuir, não analisamos, não pensamos e não ponderamos. Simplesmente
compramos.
Seja impulsionado por descontos distópicos ou campanhas
de marketing alusivas, a resposta sempre será a mesma. Compramos porque somos
induzidos a comprar. E o que isso tem de sustentável? Absolutamente nada.
O motivo? Mais do que estar respaldada sob uma lógica
produtiva que não faz nada bem para o meio ambiente, a moda hoje insiste em um
sistema que não mais se sustenta. E isso no sentido literal da coisa toda.
Enquanto não mudarmos a lógica insustentável que está por trás de todo o
sistema da moda, jamais a tornaremos sustentável, ou minimamente benéfica a nós
e ao Planeta. Por quê? Porque mais do produzir de maneiras ambientalmente
corretas, faz-se necessário cada vez mais questionar se tal produção, e consequentemente
consumo, é realmente, impreterivelmente, verdadeiramente necessária.
Por Erika Gottsfritz, Graduanda em Design de Moda, Co-fundadora e editora do projeto de comunicação de moda independente Trameiras.
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