O general estava na reserva (ou reformado?) já fazia um bom
tempo. Ele ia tocando a sua vida de aposentado dentro daquele padrão já bem
conhecido: sem hora para acordar, leitura minuciosa do jornal, visitas
periódicas aos netos etc.
Num primeiro
momento a condição de nunca mais ter horários e compromissos e longe da
disciplina rígida da caserna, lhe pareceu muito boa. Entretanto, decorrido
certo tempo, o tédio foi tomando conta e ele sentia que faltava algo em sua
vida. Não sabia exatamente o que seria esse "algo", mas se permitia
sonhar com outra vida, outro mundo. Um atento observador externo logo diria que
o que estava faltando era emoção.
Um dia, porém,
algo novo e inesperado aconteceu. Na padaria, comprando o pão diário, tarefa
que era um dos seus raros compromissos, travou conversa com jovem bastante desinibida.
Dias depois calhou de reencontrá-la, e ela não só o reconheceu como o
cumprimentou efusivamente. Saíram juntos do estabelecimento e prolongaram a
conversa. Uma água de coco que tomaram juntos ajudou a aumentar a intimidade.
Margarida era o
nome dela. Soube que essa flor era separada e que morava sozinha no bairro do
Pina, Recife/PE. Os números dos telefones foram trocados e daí para frente a
intimidade só cresceu. Desse momento em diante o General passou a cultivar uma
vaidade que antes não tinha. O bigode e os cabelos ficaram retintos. Começou
uma dieta rigorosa para perder a barriguinha, matriculou-se numa academia que
passou a frequentar com assiduidade. A esposa e companheira de tantos anos até
estranhou, mas ao fim chegou a gostar dos cuidados que ele estava tendo consigo
mesmo.
No entanto, a atividade mais prazerosa passou a ser as
caminhadas diárias até o bairro do Pina. Nas visitas que fazia ao amanhecer, o
general conheceu um carinho novo e encantou-se. Em troca levava uns mimos para
sua Margarida. Acostumado a liderar e comandar tropas com certa dureza para se
impor, o general ficou bobinho com sua flor.
Até que um dia
aconteceu o inesperado. No auge do amor, o coração do velho guerreiro não
aguentou, e parou nos braços da sua flor Margarida, literalmente. Como sabemos
uma morte nessas circunstâncias fica difícil abafar, mas todos os procedimentos
seguintes foram realizados com a discrição que era possível.
O tempo passou e
ocorreu um evento festivo no prédio onde morava o general, que era muito
querido. Um morador que estivera ausente fazendo um curso no exterior
perguntou:
- Minha gente... Onde anda o general que nunca mais o
encontrei ?
Informaram então que o General havia falecido,
infelizmente. Ele então perguntou pesaroso:
- Ohnn....mas morreu de quê?
Todos os presentes entreolharam-se cúmplices e um deles
mais espirituoso respondeu:
-
Morreu em combate !
- Mas como assim, ele já não estava aposentado? ...perguntou
espantado o vizinho desinformado.
Ninguém se aguentou e a gargalhada foi geral. A resposta
foi espirituosa mas não chegou a ser mentirosa, pois o general caiu
"combatendo o bom combate".
DIVULGAÇÃO
Sensacional
ResponderExcluirO Coronel continua vivo, Margarida continua sonhando, isso chama-se saber viver.
ResponderExcluir