segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Combateu o bom combate - Uma crônica humorística do nosso colaborador Márcio Nilo

Gazeta da Torre
O general estava na reserva (ou reformado?) já fazia um bom tempo. Ele ia tocando a sua vida de aposentado dentro daquele padrão já bem conhecido: sem hora para acordar, leitura minuciosa do jornal, visitas periódicas aos netos etc. 

Num primeiro momento a condição de nunca mais ter horários e compromissos e longe da disciplina rígida da caserna, lhe pareceu muito boa. Entretanto, decorrido certo tempo, o tédio foi tomando conta e ele sentia que faltava algo em sua vida. Não sabia exatamente o que seria esse "algo", mas se permitia sonhar com outra vida, outro mundo. Um atento observador externo logo diria que o que estava faltando era emoção.

Um dia, porém, algo novo e inesperado aconteceu. Na padaria, comprando o pão diário, tarefa que era um dos seus raros compromissos, travou conversa com jovem bastante desinibida. Dias depois calhou de reencontrá-la, e ela não só o reconheceu como o cumprimentou efusivamente. Saíram juntos do estabelecimento e prolongaram a conversa. Uma água de coco que tomaram juntos ajudou a aumentar a intimidade.

 Margarida era o nome dela. Soube que essa flor era separada e que morava sozinha no bairro do Pina, Recife/PE. Os números dos telefones foram trocados e daí para frente a intimidade só cresceu. Desse momento em diante o General passou a cultivar uma vaidade que antes não tinha. O bigode e os cabelos ficaram retintos. Começou uma dieta rigorosa para perder a barriguinha, matriculou-se numa academia que passou a frequentar com assiduidade. A esposa e companheira de tantos anos até estranhou, mas ao fim chegou a gostar dos cuidados que ele estava tendo consigo mesmo.

No entanto,  a atividade mais prazerosa passou a ser as caminhadas diárias até o bairro do Pina. Nas visitas que fazia ao amanhecer, o general conheceu um carinho novo e encantou-se. Em troca levava uns mimos para sua Margarida. Acostumado a liderar e comandar tropas com certa dureza para se impor, o general ficou bobinho com sua flor.

Até que um dia aconteceu o inesperado. No auge do amor, o coração do velho guerreiro não aguentou, e parou nos braços da sua flor Margarida, literalmente. Como sabemos uma morte nessas circunstâncias fica difícil abafar, mas todos os procedimentos seguintes foram realizados com a discrição que era possível.

O tempo passou e ocorreu um evento festivo no prédio onde morava o general, que era muito querido. Um morador que estivera ausente fazendo um curso no exterior perguntou:
- Minha gente... Onde anda o general que nunca mais o encontrei ?

Informaram então que o General havia falecido, infelizmente. Ele então perguntou pesaroso:

- Ohnn....mas morreu de quê?

Todos os presentes entreolharam-se cúmplices e um deles mais espirituoso respondeu:

- Morreu em combate !

- Mas como assim, ele já não estava aposentado? ...perguntou espantado o vizinho desinformado.

Ninguém se aguentou e a gargalhada foi geral. A resposta foi espirituosa mas não chegou a ser mentirosa, pois o general caiu "combatendo o bom combate".

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