|
Mercado da Madalena |
Uma característica interessante
que diferencia Recife de outras cidades e capitais brasileiras é a sua peculiar
cultura de mercados públicos de bairros. Nas capitais brasileiras que tivemos a
oportunidade de conhecer nota-se a presença marcante de um mercado central, por
vezes de grandes dimensões, que representa uma referência importante para toda
a cidade.
Em Recife, porém, além do Mercado
de São José, com sua bonita arquitetura, que poderia ser considerado o nosso
“mercado central”, contamos com mais 16 mercados públicos, localizados em
diferentes bairros e comunidades recifenses. Cada um deles assume uma
personalidade e um perfil próprio, fazendo parte indissociável da nossa
paisagem urbana e cultural.
Muito já se comentou e escreveu
sobre os aspectos históricos e sociais, bem como sobre a importância destes
mercados públicos de Recife para a própria identidade cultural da cidade. Nunca
é demais lembrar que tais espaços, se no início se caracterizavam como simples
empórios para a compra e venda de mercadorias da terra, ao longo do tempo foram
adquirindo uma personalidade mais ampla, assumindo sua vocação de verdadeiros
“espaços de convivência”, onde turistas, gente do povo, intelectuais, políticos
etc., vão em busca do lazer, de atrações culturais, da comedoria e da boêmia.
Portanto, a importância dos mercados públicos recifenses, como reveladores dos
hábitos, dos costumes e da própria natureza das pessoas das comunidades a que
servem, é um consenso entre todos os observadores da paisagem urbana e social
da nossa cidade. Gostaria de destacar, porém, além disso, dois aspectos que
julgo importante comentar sobre estes interessantes espaços públicos. O
primeiro seria o caráter de “aglomerador de gente” que um mercado público assume.
O outro aspecto seria a forma mais generosa com que o exercício da convivência
e da tolerância é praticado nestes espaços. Explico-me a seguir.
Em recente matéria veiculada em
jornal de grande circulação do estado, conhecido acadêmico, discorrendo sobre aspectos urbanísticos do
Recife, citou a expressão “aglomerador
de gente” como sendo uma característica necessária e desejável para os espaços
públicos de uma cidade. A análise do referido professor afirmava, entre outras
colocações interessantes, que as formas
mais modernas de abastecimento (supermercados e hipermercados), bem como os grandes centros comerciais que
surgiram nas últimas décadas (shopping centers), em que pese a sua atratividade
massiva para a atividade da compra e venda de mercadorias, são espaços
impessoais, que não favorecem muito a
convivência e a interação cotidiana das pessoas. Além disso, afirmo eu, não são
reveladores de uma cidade, dos costumes de um povo, dos seus hábitos, da sua
cultura, isto porque, como sabemos, Shopping Center tem a mesma cara aqui, na
China e em qualquer lugar do mundo.
Um mercado público servindo um bairro ou
comunidade é a própria antítese desta situação. Este local, que poderia ser
considerado desprovido de requinte e do conforto moderno, é o verdadeiro espaço
“aglomerador de gente”, onde se consegue
uma verdadeira imersão na cultura e no cotidiano local. Vejamos o exemplo do Mercado
da Madalena: a vida fervilha nele e nos seus arredores, com a presença dos
comerciantes, clientes, lavadores de carros, taxistas, vendedores de amendoim,
camelôs vendendo suas bugigangas, além dos tradicionais “malucos” e personagens
folclóricos etc. Nos boxes do mercado,
constatamos aquele interessante e diversificado “mix”: frutas e verduras,
peixe, carne, armarinhos, queijos,
artesanato, carne de sol, produtos para pássaros e outros animais etc.
Encontramos (quase) tudo.
O que não encontramos na verdade não estávamos
precisando mesmo, ora bolas! Nos fins de semana vemos a apresentação de
cordelistas, manifestações folclóricas, escritores lançando seus livros,
forrozeiros e artistas em geral, além da realização de eventos especiais, tais
como a eleição do “corno do ano” etc.,
etc. Não poderíamos deixar de mencionar, é claro, os restaurantes e bares do
mercado e no seu entorno (viva o Tom Marrom e sua eclética confraria!), que
podem ser considerados, nos fins de semana, as principais atrações do mercado.
Neles temos o melhor da culinária regional com preços acessíveis, além de
descontração, alegria e muita conversa jogada fora. Nas madrugadas dos sábados
chegam aqueles grupos vindos de outras festas, de outros eventos que já
acabaram, mas que estes boêmios se recusam a acreditar, e buscam no mercado
a(s) saideira(s) e um bom cuscuz com galinha guisada, para repor as energias. Tudo isto agrega, aglutina, socializa, convida
“gente” e incentiva a convivência.
Outro aspecto a destacar é a
convivência democrática e tolerante por parte dos frequentadores destes
espaços. Vemos uma mistura de pessoas de todas as cores, credos e
classes sociais numa convivência amigável e aconchegante. As conversas
podem ter os mais variados temas, desde um gracejo sobre um time de futebol até
a situação política mundial. As mesas
dos bares são compartilhadas por intelectuais, gente do povo, trabalhadores
humildes, juízes, turistas etc.,
formando um ambiente catalisador de uma convivência fraterna e tolerante.
Entendo que cada um destes atores sociais mencionados promovam um “ajuste” no seu discurso e na sua postura,
para que o diálogo flua e o entendimento entre as partes venha a ter um bom
termo. O que constatamos, na verdade, é que todos exercemos uma tolerância que,
acredito eu, fora deste espaço descontraído e democrático que é um mercado
público, não seria praticado dessa forma e com essa generosidade.
Em nosso Mercado da Madalena podemos encontrar:
|
Língua ao molho madeira (Bar do Jairo) |
|
Fava c/ queijo coalho e carne de sol (Bar do Artur) |
|
Bode guizado (Confraria dos Chifrudos) |
|
Frutos do Mar (Box Frutos do Mar e Marisol Pescados) |
|
Ovos de capoeira (Box Empório Pernambucano) |
|
Queijos e Carnes regionais (Box Empório Pernambucano) |
|
Bolachas, Mel e Rapadura (Box Empório Pernambucano) |
|
Doces e Molhos (Box Seridó) |
|
Cachaçaria |
|
Produtos naturais (Box Capibaribe Prod. Naturais) |
|
Acessório (Box Empório Pernambnucano) |
|
Calçados (Box Empório Pernambucano) |
|
Reservatório para cachaça ( (Box Empório Pernambucano) |
|
Gaiola e acessórios para pássaros (Box Galêgo dos Canários) |
|
Aviamentos (Box Virginia Aviamentos) |
|
Costura e Confecção de fantasias (Box Linha Ateliê) |
|
Artesanatos e brinquedos (Box Minha Comadre) |
|
Lançamentos de Livros e apresentações de projetos regionais |
|
Compositores regionais
(na foto Ely Madureira - compositor de frevo canção) |
|
Escritores e poetas
(na foto Carcará e o professor, poeta e cordelista
Adelmo Vasconcelos -
c/ obras na Bienal Internacional do Livro 2013 em Pernambuco) |
|
Cantoras de nosso bairro como Vera Costa -
uma de nossas riquezas do nosso bairro. |
|
A cantora Irah Caldeira, presença marcante em nosso mercado. |
|
Os grande Cantor, compositor, poeta e escritor, Maviael Melo e
o cantor e compositor, Marrom Brasileiro.
O cantor Santana e amigos.
|
|
O grande compositor e cantor, Maciel Melo
com nosso amigo Giovane. |
|
O artista multicultural Véio Mangaba (Walmir Chagas) e amigos. |
E MUITO mais...
Mercados públicos de Recife:
estes são os nossos verdadeiros “Shoppping Centers”, pois nos seus “mix”, eles têm alma e poesia !!!
Texto de Márcio Nilo
Nenhum comentário:
Postar um comentário