sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Mercado da Madalena - Um jovem senhor centenário

 Gazeta da Torre

É neste mês que o Mercado da Madalena celebra seu centenário. Sua construção teve início em 6 de fevereiro de 1925 e foi inaugurado em 19 de outubro do mesmo ano. Antes de sua existência, havia no local uma feira livre conhecida como “Feira do Bacurau” — referência ao horário de funcionamento e ao pássaro de hábito noturno —, frequentada por boêmios e comerciantes do bairro. A desordem da feira e a falta de higiene fizeram com que os moradores da localidade exigissem da Prefeitura a construção de um mercado. E ela o ergueu, bonito!

Lembro-me de quando eu e meu irmão, ainda crianças, nos anos 1960, éramos levados por nosso pai aos domingos para passear nas ruazinhas internas do mercado. Tomávamos caldo de cana, comíamos pastéis e ficávamos admirando os aquários de peixes coloridos, as gaiolas repletas de passarinhos e os animais domésticos e silvestres. A variedade era imensa: gatos, cachorros, galináceos, periquitos, papagaios, araras, coelhos, porquinhos-da-índia, pavões, patos, lebres e até espécies mais selvagens, como o gavião-carcará e a coruja-rasga-mortalha — eram oferecidos aos passantes dentro e fora do mercado. Chegavam até a vender jiboias para quem tivesse o “bom gosto” e a coragem de levar uma para casa. Meu irmão e eu fazíamos a maior festa quando conseguíamos convencer nosso pai a comprar um passarinho — tínhamos algumas gaiolas no quintal de casa.

Com o passar dos anos, o entorno do mercado se transformou. No lugar das antigas casas das ruas vizinhas, surgiram imponentes arranha-céus — embora algumas ainda resistam à modernidade. A rua Real da Torre deixou de ser mão dupla e hoje é marcada pelo intenso tráfego de veículos e pedestres. O próprio mercado também evoluiu. Suas ruazinhas internas ganharam paralelepípedos e cobertura, e os boxes tiveram suas fachadas renovadas, modernizando o espaço sem apagar seu charme centenário.

Passaram-se décadas desde quando eu ia a ele com meu pai — quase não retornei durante todo esse tempo. Hoje, já aposentado e com tempo livre, passei a visitá-lo com mais frequência.

No espaço externo, colado a ele, há uma comedoria com vários boxes (barzinhos) ofertando o sabor da comida regional, funcionando dia e noite. Os apreciadores da culinária nordestina deleitam-se com os pratos servidos generosamente e a preço popular. Internamente, o mercado permanece gracioso e limpo.

Aos sábados e domingos, ele se enche de gente. Muitas crianças, com seus pais, se encantam com os bichos — a maioria de pássaros e peixes ornamentais. Formam-se filas no balcão das duas peixarias para se comprar o melhor pescado da cidade — o preço é sempre em conta.

O Bar de Marília, aos sábados, é muito bem frequentado. Há música ao vivo e espaço para dançar e cantar músicas de bom gosto, saboreando petiscos regionais e bebendo cerveja gelada.

Não há dia, porém, que eu chegue ao mercado e não encontre uns ou outros amigos, aposentados como eu, tomando uma breja para matar o tempo numa boa prosa. Tem até a “Segunda Sem Lei”, um evento organizado pela “Confraria dos Amigos da Madalena” que, às segundas-feiras, se reúne para celebrar a vida, comendo e bebendo nas mesas do Bar de Marília ou no “Bar dos Cornos”.

Cem anos se passaram, muitos já se foram, outros chegaram e eu envelheci. O Mercado da Madalena, no entanto, permanece jovem, cheio de charme e vida, ofertando manhãs e tardes aprazíveis aos seus visitantes. Ele é o aniversariante do mês, mas quem recebe os presentes somos nós, os que desfrutam de sua graça em manhãs e tardes aprazíveis.

Sendo assim, eu faço um brinde, levantando uma taça transbordando agradecimentos: “Feliz aniversário, meu jovem senhor, que venham muitos e muitos centenários!”

Por José Fernando Maia, escritor

Colaborador Gazeta da Torre

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