Gazeta da Torre
Essa é a conclusão do estudo de doutorado
"Comportamentos alimentares nos contextos comunitário e de sobrepeso e
obesidade: compreensão e avaliação do Grazing", defendido na Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, em março, pela
psicóloga Marília Consolini Teodoro, sob orientação da professora Carmem
Beatriz Neufeld.
A pesquisa mostra a importância do trabalho preventivo de
regulação emocional para prevenir a manifestação desse tipo de comportamento.
Marília explica que o grazing, tema pouco estudado no
Brasil, é o nome dado a comer quantidades pequenas ou modestas de alimentos de
maneira repetitiva e não planejada, sem ser em resposta à sensação de fome ou
saciedade, com algum nível de sensação de perda de controle. Segundo a
professora Carmem, “em um primeiro momento, não é necessariamente um
comportamento problemático ou associado a uma psicopatologia”. Mas explica que
pode gerar desdobramentos associados a “uma maior probabilidade de
desenvolvimento de uma psicopatologia, de uma patologia do comportamento
alimentar”.
Por isso, a identificação desse comportamento, aponta a
pesquisadora, poderá proporcionar “novas investigações para intervenções mais
direcionadas, principalmente na área dos problemas alimentares”.
Assim como abordagens multifatoriais para tratar essas
condições, que, “muitas vezes, não são consideradas um transtorno mental, mas
estão extremamente relacionadas com condições psicológicas”, para que os
pacientes sejam cuidados de forma integrativa e os resultados sejam mais
efetivos.
O estudo colocou como hipótese o entendimento de que o
grazing funciona como um mecanismo de regulação emocional para o alívio de
ansiedade, por exemplo. Outros estudos já associaram o comportamento,
principalmente, com a obesidade, a dificuldade de perder peso e outros tipos de
transtornos alimentares e sintomas depressivos e ansiosos. “O peso está
extremamente relacionado com condições psicológicas, assim como condições
comportamentais, como é o caso desse comportamento em específico”, afirma
Marília.
A pesquisadora investigou e avaliou a manifestação desse
comportamento na população brasileira, com uma amostra comunitária de 542
pessoas, em que a maioria estava em nível de peso considerado normal, e uma
amostra clínica de 281 pessoas, com participantes que apresentavam algum nível
de obesidade.
Marília conta que as amostras foram comparadas para
“entender também se havia alguma diferença na manifestação desse
comportamento”. Na amostra clínica, o grazing foi mais prejudicial, mas também
se manifestou de forma significativa na amostra comunitária, o que indica “a
relevância desse comportamento no Brasil”.
As pesquisadoras dividiram a manifestação desse
comportamento em dois grupos: o grazing repetitivo, que ocorre de forma
contínua, porém mais leve, menos prejudicial e menos associado à perda de
controle; e o grazing compulsivo, mais associado à perda de controle e a
sintomas psicológicos.
Outro resultado que chamou a atenção das pesquisadoras
foi que o estresse apresentou uma variação do grazing compulsivo, mais
associado à perda de controle. “Então a gente entende que o estresse parece ser
uma variável que colabora, que está relacionada com a manifestação desse
comportamento.”
Adaptação e validação de questionário
Para a pesquisa foi utilizado o Repeat Questionary
(Rep(eat)-Q), ferramenta que investiga a relação do grazing com o Índice de
Massa Corporal (IMC) e a psicopatologia. O IMC é um índice usado mundialmente
para saber se uma pessoa está em seu peso ideal, dividindo o peso pela sua
altura ao quadrado. O questionário foi adaptado e validado pelas pesquisadoras
para a população brasileira, mediante etapas de avaliação e estudo piloto, até
chegar à versão final adaptada como Questionário de Belisco Contínuo. Foi aplicado
também um questionário sociodemográfico e um questionário de avaliação de
sintomas ansiosos, depressivos e de estresse.
Ao todo, a pesquisa contou com quatro etapas. Na
primeira, as pesquisadoras traçaram um panorama sobre a avaliação psicológica de
transtornos alimentares e problemas alimentares associados, apresentando o
conceito de grazing e os instrumentos disponíveis para a avaliação. A segunda
foi uma revisão da literatura sobre o tema e as definições usadas, população
estudada, prevalência e associações já encontradas sobre o comportamento, além
das lacunas que ainda existem sobre a questão. Já a terceira foi a adaptação e
validação do questionário para a população brasileira e, para finalizar, a aplicação nas amostras comunitária e
clínica, além de análises de comparação entre elas.
Fonte: Jornal da USP
- divulgação -
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