Gazeta da Torre
Segundo o pesquisador Jônatas de Oliveira, pesquisador em
Ciências pela Faculdade de Medicina da USP, os transtornos alimentares são, em
muitos casos, uma forma de negação de si mesmo feita pelo indivíduo.
Segundo uma pesquisa realizada na Espanha, cerca de uma
em cada cinco crianças entre 6 e 18 anos apresenta algum tipo de desordem
alimentar que, se não tratada corretamente, pode se tornar um transtorno
alimentar, como anorexia, bulimia e compulsão alimentar. O mesmo estudo
demonstrou que esse comportamento costuma ser mais comum entre as meninas —
cerca de 30% delas apresentam a desordem, enquanto isso, o número cai para 17%
quando falamos dos meninos.
No território nacional, os dados também são alarmantes,
cerca de 10 milhões de pessoas apresentam algum tipo de transtorno alimentar.
Jônatas de Oliveira, pesquisador em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP,
comenta que os transtornos podem ser originados a partir de diferentes fatores
e o tratamento para eles requer um cuidado específico para cada paciente.
Transtornos alimentares
As desordens alimentares são marcadas por comportamentos
alimentares que se distanciam daqueles que são considerados normais para a
maioria dos indivíduos, como o constante beliscar de comidas ou a ausência de
refeições por um período muito extenso. Contudo, a frequência e a intensidade
dessa desordem pode fazer com que ela se eleve para um transtorno alimentar.
“Nós temos critérios específicos para classificar um transtorno alimentar, você
consegue notar que o indivíduo está dentro desse fenômeno com muita
intensidade”, explica Oliveira.
O especialista comenta também que a compulsão alimentar é
o transtorno alimentar mais comum no Brasil. É importante notar que nem todo
comer transtornado é um transtorno alimentar — uma vez que episódios pontuais
podem acontecer com os indivíduos —, contudo, todo transtorno alimentar apresenta-se
por meio do comer transtornado.
Além disso, os transtornos alimentares podem ser
classificados por meio de duas categorias: aquelas relacionadas à imagem
corporal e as não relacionadas à imagem corporal. Segundo Oliveira, os
comportamentos alimentares dos indivíduos que apresentam essas desordens são
muito parecidos e, por esse motivo, é comum avaliá-los como incapazes de
realizar ações autônomas associadas à sua alimentação. A cultura também
apresenta papel fundamental no desenvolvimento desses transtornos, uma vez que
ela costuma exigir certos padrões dos indivíduos, mesmo que de forma indireta.
“O transtorno alimentar vai ser uma forma de o indivíduo tentar modificar essa
imagem corporal e esse peso”, adiciona o especialista.
Crianças e adolescentes
Em primeiro lugar, Oliveira comenta que o jovem é como
uma folha em branco, assim, é a partir de diferentes vivências e experiências
que ele começa a moldar o seu comportamento e a sua personalidade. “Nesse
período, onde a personalidade está sendo formada, onde a ideia de quem eu sou,
qual o meu tamanho, como é o meu corpo, o que é bonito e feio, entre outros;
sua mente ainda está em construção, questionando e mudando, junto com algumas
mudanças hormonais. Assim, esse indivíduo vai se tornando mais independente,
questionador e existe uma impulsividade que é um pouco mais marcada”, discorre
o especialista.
É também nesse período que o jovem pode passar por
situações vulneráveis que devem atrapalhar o seu relacionamento e entendimento
sobre o próprio corpo, podendo causar, dessa forma, desordem e transtornos alimentares. Segundo
Oliveira, sofrer algum tipo de preconceito pode gerar mudanças nos
comportamentos alimentares de crianças e jovens que ainda estão passando pelo
processo de construção de sua autoestima.
As redes sociais parecem ter um papel fundamental no
aumento do número de jovens que sofrem com algum tipo de transtorno alimentar.
O especialista comenta que isso aconteceu, entre diversos motivos, pelo fato
delas terem facilitado o contato desses indivíduos com uma variedade de corpos
muito grande e o aumento a um estímulo para a redução da alimentação. “Existem
pesquisas que relacionam o tempo de tela com alguns comportamentos alimentares.
As redes sociais podem se configurar como um fator de manutenção dessa doença,
se aliando a certos estímulos que incitam a prática”, adiciona Oliveira.
Os tratamentos para esses transtornos são de suma
importância, contudo, no Brasil, ainda contamos com a falta de profissionais
capacitados nessa área. O especialista comenta que o País encontra-se em fase
de treinamento e, para o aumento do número de profissionais nessa área,
precisamos de mais políticas públicas.
Jornal da USP
- divulgação -
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