“Zygmunt Bauman (1925-2017) é um sociólogo polonês. A ideia de modernidade líquida é seu conceito mais popular e pode ser definida como o conjunto de relações que se impõem e que dão base para a contemporaneidade, onde “a modernidade pode ser definida como um período de liquidez, de volatilidade, de incerteza e insegurança, em que o período anterior, denominado pelo autor como modernidade sólida, seria “substituído” pela lógica do consumo, do gozo e da artificialidade imediatos. Logo, a noção de fluidez e liquidez que marca a contemporaneidade se manifesta no cotidiano em diversos contextos, como por exemplo, nas relações de trabalho, nos relacionamentos afetivos, na maneira como as identidades se constroem etc.”
Penso no paradoxo que a realidade contemporânea nos
impõe: tanta solidão e depressão, em um mundo globalizado, com tanta facilidade
de comunicação e consumo, redes e mais redes de relacionamentos, de “amizades
numéricas”, exposições, curtidas e mídias sociais, assim como de competição
velada, busca desenfreada de “ter”, busca de momentos prazerosos, glória,
sucesso e felicidade perenes... Eu, enquanto ser humano e profissional da área
social e de desenvolvimento humano, sou acometida por uma sincera preocupação
de que talvez o mal esteja no excesso... Talvez esteja faltando um EQUILÍBRIO
maior nas pequenas coisas, para se alcançar uma felicidade menos efusiva, mais
tênue, calma, sem tanta luz e paetês, mas afinal de contas, mais saudável e
sustentável.
Mas o que é felicidade para você?
Aristóteles, filósofo grego, pensava que a felicidade é o
resultado de um modo de vida e um modo de ser, que surge quando somos capazes
de desenvolver nosso potencial como pessoa e construir um sólido “eu”.
Mas, o que é esse modo de viver?
Aristóteles pensava que o segredo estava em um viver com
equilíbrio - uma ideia semelhante ao Budismo. Refletia que uma vida de
abstinência, privação e repressão não leva à felicidade ou a um “eu” completo,
mas, por outro lado, uma vida conduzida pelos excessos geralmente produz uma
forma de escravidão ao prazer, provocando um vazio existencial. Assim,
Aristóteles ressalta a importância da nossa vida ser guiada por determinadas
atitudes, decisões e comportamentos pautados no equilíbrio e isso proporciona
vidas mais felizes. Eis as suas virtudes:
1. Elegibilidade. É a capacidade de controlar nosso
temperamento e as primeiras reações. A pessoa paciente não fica muito zangada,
mas também não para de ficar com raiva quando tem razões para isso.
2. Força. É o ponto intermediário entre a covardia e a
imprudência. A pessoa forte é aquela que enfrenta perigos por estar ciente dos
riscos e por tomar as precauções necessárias. Trata-se de não correr riscos
desnecessários e também de evitar os riscos necessários para crescer.
3. Tolerância. É o equilíbrio entre o excesso de
indulgência e intransigência. Aristóteles pensava que é importante perdoar, mas
sem cair no extremo de passar tudo, deixando que os outros atropelem nossos
direitos ou deliberadamente nos machuquem sem responder. Tão negativo é ser
extremamente tolerante como extremamente intolerante.
4. Generosidade. É o ponto intermediário entre a
mesquinhez e a prodigalidade. Trata-se de ajudar os outros, mas não de nos dar
tanto que nosso “eu” seja diluído.
5. Modéstia. É a virtude que está no ponto intermediário
entre não se dar crédito suficiente pelas conquistas feitas devido à baixa
autoestima e ter um ego excessivo que nos faz pensar que somos o centro do
universo. Trata-se de reconhecer nossos erros e virtudes, assumindo as
responsabilidades que nos correspondem, nem mais nem menos.
6. Veracidade. É a virtude da honestidade que Aristóteles
coloca em um ponto justo entre a mentira habitual e a falta de tato para dizer
a verdade. Trata-se de avaliar o alcance de nossas palavras e dizer o que é
necessário, nem mais nem menos.
7. Graça. É o ponto médio entre ser um palhaço e ser tão
hostil que somos rudes. É um saber ser, para que outros gostem da nossa
empresa.
8. Sociabilidade. Muito antes de os neurocientistas
descobrirem que temos que escolher nossos amigos com cuidado, pois nossos
cérebros acabarão se assemelhando aos seus, Aristóteles já nos advertiu do
perigo de sermos sociáveis demais com muitas pessoas, bem como da incapacidade
de fazer amigos. O filósofo acreditava que deveríamos escolher nossos amigos
com cuidado, mas também cultivar esses relacionamentos.
9. Decoro. É o ponto médio. Uma pessoa decente respeita a
si mesma e não tem medo de cometer erros, mas não cai em insolência ou
impertinência tentando passar sobre os outros. Ele está ciente de que todos
merecem ser tratados com respeito e exige o mesmo respeito por si mesmo.
10. Justiça. É a virtude de lidar de forma justa com os
outros, a meio caminho entre o egoísmo e o total desinteresse. Consiste em
levar em conta tanto as necessidades dos outros quanto as próprias, para
encontrar o meio-termo que nos permita tomar decisões mais justas para todos.
Gostei da proposta! Desejo que seja útil também aos
leitores do Gazeta da Torre.
Abraço fraterno!
Vera Silva
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