sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Um “Soldado Reciclador” na Torre?

Redação Gazeta da Torre

Cada brasileiro produz, em média, 1 kg de lixo por dia, uma quantidade pequena se comparada com aos 3 kg de cada americano. Mas, somando o descarte de todos os cidadãos, o monturo diário no Brasil chega a 170.000 toneladas. Dessa montanha de sujeira, o país reaproveita apenas 11% - cinco vezes menos do que os países desenvolvidos. A maior porção desses detritos é matéria orgânica, que pode ser convertida em adubo. O que resta é composto, majoritariamente, por vidros, plásticos, papéis e metais, os materiais recicláveis por excelência.

Os índices brasileiros de reciclagem desses produtos variam muito. O Brasil é campeão mundial no reaproveitamento de garrafas PET e latas de alumínio, mas, por outro lado, despeja a maior parte dos plásticos e latas de aço nos "lixões" a céu aberto. Atualmente, apenas 327 municípios dispõem de algum sistema público de coleta seletiva. Dar um destino adequado ao lixo é um dos grandes desafios da administração pública em todo o planeta. Atualmente, compram-se muito mais produtos industrializados do que na década passada, incluindo alimentos e bebidas.

Rafael Batista: "No lixo acho de tudo, só não acho dinheiro."
Muitas pessoas, porém, já descobriram como transformar objetos sem valor num grande negócio. É o caso de Rafael Batista, morador de uma comunidade na Madalena. Para quem o encontra nas ruas de nosso bairro, Rafael está mais para um “Mercenário Reciclador” que um “Soldado Reciclador”, observando pelo ângulo de sua aparência e objetivo.

Sabe aquelas velharias que estão acumulando progressivamente na sua casa? Saiba que, às vezes elas podem ser a fonte de dinheiro e, por incrível que pareça, Rafael descobriu isso. Não tem hora e dia para ele ir à caça, nos sacos de lixo, de alguma coisa que,depois de encontrada, lhe renda dinheiro em sua comercialização. “No lixo acho de tudo, só não acho dinheiro”, diz sorrindo.

Existem programas de televisão, como Mestre da Restauração, Os Caçadores de Relíquias, Trato Feito (Todos da The HistoryChannel- Canal de televisão por assinatura), que, basicamente, contam a história de pessoas que guardam velharias por anos e depois as vendem por preços surpreendentes altos. Há pessoas que restauram todo tipo de coisas velhas e as deixa impecáveis, utilizando por exemplo em decoração de pontos comerciais e residências. Outras procuram por coisas valiosas na região e as coloca à venda para colecionadores. Alguns possuem loja de penhores e recebem coisas antigas de várias pessoas e depois as revendem para colecionadores.

Vocês sabiam que alguns livros antigos podem chegar ao valor de R$100 mil reais? Ou ainda que brinquedinhos de criança, bem conservados,podem ser vendidos por quase mil dólares? É tudo uma questão de saber quais produtos se têm em mãos e o quanto eles valem em uma boa negociação. Um simples autógrafo ou assinatura de alguém famoso em um livro pode valorizar ainda mais sua venda. E também valorizar a preservação do meio ambiente.

E falando do meio ambiente, a partir da década de 70,passou a ser uma das grandes preocupações mundiais. Preocupação que se voltou, principalmente, para o aumento da produção de lixo, alavancado pela proliferação das embalagens e produtos descartáveis. A palavra reciclagem ganhou, na ocasião, sua acepção ecológica. E de lá para cá, passou a designar o conjunto de técnicas que busca reprocessar substâncias jogadas no lixo para que elas se tornem novamente úteis e possam ser reinseridas no mercado. Ela é um dos fins - certamente o mais lucrativo e ecológico - que os resíduos podem ter. Mas nem todo material pode ser reciclado. E para cada um daqueles que podem ser reaproveitados existe uma forma adequada de reciclagem. Nesse processo, a coleta seletiva é fundamental e consiste, basicamente, na separação e no recolhimento do lixo.

Se o processo de reciclagem for muito caro, ninguém irá fazê-lo, muito menos a iniciativa privada, que hoje é responsável por grande parte do processamento de substâncias para serem reutilizadas. Ou seja, até existem técnicas de reciclagem para alguns materiais que não são reaproveitados, mas os procedimentos consomem muita energia ou exigem equipamentos caros. O desafio é desenvolver processos que tragam retorno financeiro, ou que pelo menos compensem o investimento.

No Brasil, a reciclagem de pilhas ainda não é feita em escala industrial justamente pelo alto custo do processo. O desmonte das peças, sempre compostas por muitos elementos, alguns deles tóxicos, é muito trabalhoso. Outro problema a ser superado é o lixo poluído. É preciso garantir que os resíduos cheguem à fábrica de reciclagem em bom estado. Isso significa que o lixo seco não pode entrar em contato com os restos orgânicos. Um copo de café jogado numa lata de lixo pode comprometer a reciclagem de todo o papel ali contido. Vale lembrar que é inútil separar o lixo seco por tipo de material - as empresas e cooperativas sempre fazem uma nova triagem. Amassar latas e garrafas PET ou desmontar as embalagens longa-vida também são medidas que não encurtam em nada o processo de reciclagem.

No caso dos Metais e Papéis, a primeira etapa da reciclagem, a coleta seletiva, costuma ser feita por catadores. São eles que recolhem os restos nas ruas e vendem o material, já compactado e limpo, às empresas recicladoras. O processo de reaproveitamento do alumínio, o metal mais reciclado, consiste na retirada de impurezas (como areia, terra e metais ferrosos), na remoção das tintas e vernizes e, por fim, na fundição do metal. Num forno especial, ele se torna líquido, para ser, então, laminado - o combustível queimado nesta etapa pode provir do gás gerado nas fases anteriores. São essas chapas que são transformadas em novas latas.

Já no Papel, assim que chega à indústria da reciclagem, é cortado em tiras e colocado num tanque de água quente, onde é mexido até que forme uma pasta de celulose. Na fase seguinte, drena-se a água e retiram-se as impurezas. O preparado é, então, despejado sobre uma tela de arame. A água passa e restam as fibras. O material é seco e prensado por pesados cilindros a vapor e alisado por rolos de ferro. Está, então, pronto para ser enrolado em bobinas e ser papel de novo.

No Plástico, a reciclagem pode ser feita de duas maneiras: com ou sem a separação das resinas. O primeiro processo é mais caro para os brasileiros, uma vez que requer equipamentos que não são fabricados no país. O resultado desta técnica é a chamada madeira plástica, usada na fabricação de bancos de jardim, tábuas e sarrafos. O outro processo, mais comum, inicia-se pela separação dos plásticos conforme sua densidade. Depois, são triturados até virarem flocos do tamanho de um grão de milho. Já lavados e secos, os flocos são vendidos às fábricas que confeccionam artefatos de plástico.
No Vidro, a primeira etapa do processo de reciclagem é separá-lo conforme a cor - o incolor é o de melhor qualidade. Em seguida, o material é lavado e ocorre a retirada de impurezas, como restos de metais e plástico. Um triturador, então, transforma o vidro em cacos de tamanho homogêneo. Antes de serem fundidos, os pedaços são misturados com areia e pedra calcária. Sem que resfriem, recebem um jato de ar quente para tornarem-se mais resistentes. Estão, enfim, prontos para serem utilizados mais uma vez.

Na Matéria Orgânica, as sobras de comidas, legumes, verduras e frutas estragadas, cereais, sementes, casca de ovos, pão embolorado, aparas de lápis apontado, saquinhos de chá, guardanapos de papel, podas de jardim, galhos, serragem, pó de café etc. - corresponde a 65% de todo o lixo que se produz no Brasil. A reciclagem deste tipo de material chama-se compostagem. Seu papel é acelerar o processo natural de decomposição da matéria orgânica e transformá-la em adubo. O método mais comum resume-se ao revolvimento da porção de terra onde foram despejados os resíduos. Mas existem também procedimentos mais avançados. Num deles, o lixo é vertido em células de concreto, um tipo de concreto produzido através da mistura de cimentocal e areia (componentes comuns da argamassa) com pó de alumínio (agente expansor), que se expande formando células de ar. O resultado é um material de construção leve que pode ser usado em vedações verticais, como alternativa para reduzir a geração de entulho e o desperdício de material em geral e para um desempenho melhor com relação a conforto acústico e conforto térmico

Para se ter uma ideia, a reciclagem de uma única latinha de alumínio propicia economia de energia suficiente para manter uma geladeira ligada por quase dez horas; cada kg de vidro reutilizado evita a extração de 6,6 kg de areia; cada tonelada de papel poupada preserva vinte eucaliptos. Poupam-se a natureza e os gastos. No Brasil, estima-se que uma tonelada de lixo reciclado economize 435 dólares. Em 2006, com a reciclagem de 30.000 toneladas de papel, o país deixou de derrubar 600.000 arvores. A indústria também pode se beneficiar. A versão reciclada dos plásticos, por exemplo, consome apenas 10% do petróleo exigido na produção do plástico virgem - economia que vem a calhar com a escalada vertiginosa do preço do barril verificada nas últimas décadas. As vantagens também podem ser obtidas pela reciclagem do aço, cuja tonelada reaproveitada preserva 110.000 toneladas de minério de ferro.


Mas enfim, é inacreditável o que achamos e o que podemos tirar vantagens em determinados lixos. Como foi dito, o desafio é desenvolver processos que tragam retorno financeiro, ou que pelo menos compensem o investimento. No caso de Rafael, ainda não há nenhum uso da tecnologia no seu processo de reciclagem, mas ele já tem a noção do que é lixo e o que é luxo. Sabe, que em algum saco de lixo, ele vai se dar bem. 


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