Redação Gazeta da Torre
Cada
brasileiro produz, em média, 1 kg de lixo por dia, uma quantidade pequena se
comparada com aos 3 kg de cada americano. Mas, somando o descarte de todos os
cidadãos, o monturo diário no Brasil chega a 170.000 toneladas. Dessa montanha
de sujeira, o país reaproveita apenas 11% - cinco vezes menos do que os países
desenvolvidos. A maior porção desses detritos é matéria orgânica, que pode ser
convertida em adubo. O que resta é composto, majoritariamente, por vidros,
plásticos, papéis e metais, os materiais recicláveis por excelência.
Os
índices brasileiros de reciclagem desses produtos variam muito. O Brasil é
campeão mundial no reaproveitamento de garrafas PET e latas de alumínio, mas,
por outro lado, despeja a maior parte dos plásticos e latas de aço nos
"lixões" a céu aberto. Atualmente, apenas 327 municípios dispõem de
algum sistema público de coleta seletiva. Dar um destino adequado ao lixo é um
dos grandes desafios da administração pública em todo o planeta. Atualmente,
compram-se muito mais produtos industrializados do que na década passada, incluindo
alimentos e bebidas.
Rafael Batista: "No lixo acho de tudo, só não acho dinheiro." |
Muitas
pessoas, porém, já descobriram como transformar objetos sem valor num grande
negócio. É o caso de Rafael Batista, morador de uma comunidade na Madalena.
Para quem o encontra nas ruas de nosso bairro, Rafael está mais para um “Mercenário
Reciclador” que um “Soldado Reciclador”, observando pelo ângulo de sua
aparência e objetivo.
Sabe
aquelas velharias que estão acumulando progressivamente na sua casa? Saiba que,
às vezes elas podem ser a fonte de dinheiro e, por incrível que pareça, Rafael descobriu
isso. Não tem hora e dia para ele ir à caça, nos sacos de lixo, de alguma coisa
que,depois de encontrada, lhe renda dinheiro em sua comercialização. “No lixo acho de tudo, só não acho dinheiro”,
diz sorrindo.
Existem
programas de televisão, como Mestre da
Restauração, Os Caçadores de
Relíquias, Trato Feito (Todos da
The HistoryChannel- Canal de televisão por assinatura), que, basicamente,
contam a história de pessoas que guardam velharias por anos e depois as vendem
por preços surpreendentes altos. Há pessoas que restauram todo tipo de coisas
velhas e as deixa impecáveis, utilizando por exemplo em decoração de pontos comerciais
e residências. Outras procuram por coisas valiosas na região e as coloca à
venda para colecionadores. Alguns possuem loja de penhores e recebem coisas
antigas de várias pessoas e depois as revendem para colecionadores.
Vocês
sabiam que alguns livros antigos podem chegar ao valor de R$100 mil reais? Ou
ainda que brinquedinhos de criança, bem conservados,podem ser vendidos por
quase mil dólares? É tudo uma questão de saber quais produtos se têm em mãos e o
quanto eles valem em uma boa negociação. Um simples autógrafo ou assinatura de
alguém famoso em um livro pode valorizar ainda mais sua venda. E também
valorizar a preservação do meio ambiente.
E falando do meio ambiente, a partir da década de 70,passou a ser
uma das grandes preocupações mundiais. Preocupação que se voltou, principalmente,
para o aumento da produção de lixo, alavancado pela proliferação das embalagens
e produtos descartáveis. A palavra reciclagem ganhou, na ocasião, sua acepção
ecológica. E de lá para cá, passou a designar o conjunto de técnicas que busca
reprocessar substâncias jogadas no lixo para que elas se tornem novamente úteis
e possam ser reinseridas no mercado. Ela é um dos fins - certamente o mais
lucrativo e ecológico - que os resíduos podem ter. Mas nem todo material pode
ser reciclado. E para cada um daqueles que podem ser reaproveitados existe uma
forma adequada de reciclagem. Nesse processo, a coleta seletiva é fundamental e
consiste, basicamente, na separação e no recolhimento do lixo.
Se o processo de reciclagem for muito caro, ninguém irá fazê-lo,
muito menos a iniciativa privada, que hoje é responsável por grande parte do
processamento de substâncias para serem reutilizadas. Ou seja, até existem
técnicas de reciclagem para alguns materiais que não são reaproveitados, mas os
procedimentos consomem muita energia ou exigem equipamentos caros. O desafio é
desenvolver processos que tragam retorno financeiro, ou que pelo menos
compensem o investimento.
No Brasil, a reciclagem de pilhas ainda não é feita em escala
industrial justamente pelo alto custo do processo. O desmonte das peças, sempre
compostas por muitos elementos, alguns deles tóxicos, é muito trabalhoso. Outro
problema a ser superado é o lixo poluído. É preciso garantir que os resíduos
cheguem à fábrica de reciclagem em bom estado. Isso significa que o lixo seco
não pode entrar em contato com os restos orgânicos. Um copo de café jogado numa
lata de lixo pode comprometer a reciclagem de todo o papel ali contido. Vale
lembrar que é inútil separar o lixo seco por tipo de material - as empresas e
cooperativas sempre fazem uma nova triagem. Amassar latas e garrafas PET ou
desmontar as embalagens longa-vida também são medidas que não encurtam em nada
o processo de reciclagem.
No caso dos Metais e Papéis, a primeira etapa da reciclagem, a
coleta seletiva, costuma ser feita por catadores. São eles que recolhem os
restos nas ruas e vendem o material, já compactado e limpo, às empresas
recicladoras. O processo de reaproveitamento do alumínio, o metal mais
reciclado, consiste na retirada de impurezas (como areia, terra e metais
ferrosos), na remoção das tintas e vernizes e, por fim, na fundição do metal.
Num forno especial, ele se torna líquido, para ser, então, laminado - o
combustível queimado nesta etapa pode provir do gás gerado nas fases
anteriores. São essas chapas que são transformadas em novas latas.
Já no Papel, assim que chega à indústria da reciclagem, é cortado
em tiras e colocado num tanque de água quente, onde é mexido até que forme uma
pasta de celulose. Na fase seguinte, drena-se a água e retiram-se as impurezas.
O preparado é, então, despejado sobre uma tela de arame. A água passa e restam
as fibras. O material é seco e prensado por pesados cilindros a vapor e alisado
por rolos de ferro. Está, então, pronto para ser enrolado em bobinas e ser papel
de novo.
No Plástico, a reciclagem pode ser feita de duas maneiras:
com ou sem a separação das resinas. O primeiro processo é mais caro para os
brasileiros, uma vez que requer equipamentos que não são fabricados no país. O
resultado desta técnica é a chamada madeira plástica, usada na fabricação de
bancos de jardim, tábuas e sarrafos. O outro processo, mais comum, inicia-se
pela separação dos plásticos conforme sua densidade. Depois, são triturados até
virarem flocos do tamanho de um grão de milho. Já lavados e secos, os flocos
são vendidos às fábricas que confeccionam artefatos de plástico.
No Vidro, a primeira etapa do processo de reciclagem é separá-lo
conforme a cor - o incolor é o de melhor qualidade. Em seguida, o material é
lavado e ocorre a retirada de impurezas, como restos de metais e plástico. Um
triturador, então, transforma o vidro em cacos de tamanho homogêneo. Antes de
serem fundidos, os pedaços são misturados com areia e pedra calcária. Sem que
resfriem, recebem um jato de ar quente para tornarem-se mais resistentes.
Estão, enfim, prontos para serem utilizados mais uma vez.
Na Matéria Orgânica, as sobras de comidas, legumes, verduras e
frutas estragadas, cereais, sementes, casca de ovos, pão embolorado, aparas de
lápis apontado, saquinhos de chá, guardanapos de papel, podas de jardim,
galhos, serragem, pó de café etc. - corresponde a 65% de todo o lixo que se
produz no Brasil. A reciclagem deste tipo de material chama-se compostagem. Seu
papel é acelerar o processo natural de decomposição da matéria orgânica e
transformá-la em adubo. O método mais comum resume-se ao revolvimento da porção
de terra onde foram despejados os resíduos. Mas existem também procedimentos
mais avançados. Num deles, o lixo é vertido em células de concreto, um tipo de concreto produzido através da mistura de cimento, cal e areia (componentes comuns da argamassa) com pó de alumínio (agente expansor), que se expande formando células de ar. O resultado é
um material de construção leve que pode ser usado em vedações verticais, como
alternativa para reduzir a geração de entulho e o desperdício de material em geral e para um
desempenho melhor com relação a conforto acústico e conforto térmico.
Para se ter uma ideia, a reciclagem de uma única latinha de
alumínio propicia economia de energia suficiente para manter uma geladeira
ligada por quase dez horas; cada kg de vidro reutilizado evita a extração de
6,6 kg de areia; cada tonelada de papel poupada preserva vinte eucaliptos.
Poupam-se a natureza e os gastos. No Brasil, estima-se que uma tonelada de lixo
reciclado economize 435 dólares. Em 2006, com a reciclagem de 30.000 toneladas
de papel, o país deixou de derrubar 600.000 arvores. A indústria também pode se
beneficiar. A versão reciclada dos plásticos, por exemplo, consome apenas 10%
do petróleo exigido na produção do plástico virgem - economia que vem a calhar
com a escalada vertiginosa do preço do barril verificada nas últimas décadas.
As vantagens também podem ser obtidas pela reciclagem do aço, cuja tonelada
reaproveitada preserva 110.000 toneladas de minério de ferro.
Mas enfim, é inacreditável o que achamos e o que podemos tirar
vantagens em determinados lixos. Como foi dito, o desafio é desenvolver
processos que tragam retorno financeiro, ou que pelo menos compensem o
investimento. No caso de Rafael, ainda não há nenhum uso da tecnologia no seu
processo de reciclagem, mas ele já tem a noção do que é lixo e o que é luxo.
Sabe, que em algum saco de lixo, ele vai se dar bem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário