sábado, 29 de março de 2025

Imbiribeira terá os primeiros reservatórios de água da chuva sob pavimento do Recife

 Gazeta da Torre

As obras nas ruas Itacaré e Itamaracá já alcançaram 63%
de avanço e integram o projeto de macrodrenagem
da Prefeitura do Recife na bacia do rio Tejipió
(Foto:Edson Holanda/PCR)
Com o objetivo de acumular e controlar o escoamento da água da chuva, o programa ProMorar iniciou, no fim do ano passado, a construção de três reservatórios subterrâneos no bairro da Imbiribeira, nas ruas Itacaré e Itamaracá. O investimento de R$ 5 milhões visa tornar a cidade mais resiliente a alagamentos. A previsão de conclusão é para junho.

Na rua Itacaré, estão sendo construídos dois reservatórios de 60 metros de comprimento, 1,5 metro de largura e 70 centímetros de profundidade, localizados entre as ruas Cachoeira e Itajaí. As obras de drenagem da via estão em fase final. Já na rua Itamaracá, as escavações foram iniciadas para a instalação de um reservatório de 60 metros de comprimento, três metros de largura e 50 centímetros de profundidade, entre as ruas Pampulha e Itacaré. Esses “piscinões” acompanham o pico da maré, enchendo automaticamente quando ela sobe e esvaziando em seguida.

Além dos reservatórios, o projeto inclui novas pavimentações, recapeamento de vias e a implantação de sinalização horizontal e vertical. Também estão sendo construídos 2 mil m² de calçadas com piso intertravado. As melhorias viárias já começaram em alguns trechos, assim como a regularização de calçadas.

Os locais foram escolhidos com base na topografia favorável, evitando o uso de bombas, e na proximidade com o canal da Mauriceia. O planejamento das técnicas e obras estruturadoras contou com a colaboração de especialistas holandeses e brasileiros durante uma maratona de estudos sobre a bacia do rio Tejipió.

Fonte:PCR

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quinta-feira, 27 de março de 2025

Viajar sozinha reforça a independência feminina e promove experiências enriquecedoras, segundo doutoranda em Turismo da USP

 Gazeta da Torre

Nos últimos anos, o número de mulheres que optaram por viajar sozinhas cresceu significativamente ao redor do mundo. Segundo Adriana Santos Brito, doutoranda em Turismo pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, essa tendência está atrelada a um conjunto de fatores sociais, culturais e econômicos que reforçam a independência feminina e promovem experiências enriquecedoras.

Conforme a pesquisadora, o termo “mulheres viajantes solo” não se refere apenas ao ato de viajar sozinha, mas também aos sentimentos de autonomia, autocontrole e autorrealização que essa experiência proporciona. Além disso, essas viagens precisam ocorrer de forma segura para garantir que a experiência seja positiva.

Empoderamento

De acordo com dados de um levantamento realizado pelo Sebrae em 2019, a participação das mulheres no setor de turismo aumentou em virtude de mudanças políticas e sociais que ampliaram sua atuação no mercado de consumo de viagens. Esse fenômeno é impulsionado pelo empoderamento feminino, conceito que é bem recebido por 60% das mulheres entrevistadas na pesquisa.

Um outro estudo publicado em 2021 na revista Interdisciplinar em Turismo e Território Cenário, com base em dados do Ministério do Turismo e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), revelou que a maioria das mulheres que viajam sozinhas tem menos de 34 anos. Para elas, conhecer o mundo e adquirir novas experiências é parte de um avanço social e cultural significativo da última década.

Sentimentos

Entre as principais motivações para essas viagens, Adriana destaca o autoconhecimento, já que viajar sozinha permite que as mulheres descubram mais sobre si mesmas, seus interesses e seus valores, além de aprenderem a enfrentar desafios ao longo do percurso. A liberdade também é um fator importante, pois escolher o próprio itinerário, decidir onde ir e o que fazer sem precisar considerar a opinião de terceiros proporciona um sentimento único de autonomia.

Além disso, ela afirma que muitas viajantes solo relatam que conhecem novas pessoas com mais facilidade e criam laços durante a viagem, uma vez que estão mais abertas a interações sociais. O empoderamento é outro elemento relevante, pois sair da zona de conforto e enfrentar desafios aumenta a autoconfiança e reforça a sensação de independência.

Precauções

Apesar dos benefícios, a segurança é uma preocupação constante para as mulheres que viajam sozinhas. Há relatos de que elas precisam tomar precauções desde o planejamento até a execução da viagem para minimizar riscos. De acordo com a pesquisadora, é essencial pesquisar sobre o destino, escolher acomodações bem avaliadas e manter-se atenta ao ambiente que será visitado.

“Entre as principais recomendações para uma viagem solo segura, podemos destacar a pesquisa pela cultura, costumes e locais que serão visitados. É importante também se hospedar em acomodações seguras e que tenham avaliações de outros usuários. Sempre é bom ter a tecnologia a seu favor, com o uso de aplicativos de GPS, transporte e tradução, além de sempre compartilhar sua localização com algum amigo ou familiar de confiança. Por fim, é importante confiar no próprio destino, pois se algo não parecer certo, não se deve hesitar em mudar os planos imediatamente”, enfatiza Adriana.

Fonte:Jornal da USP

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segunda-feira, 24 de março de 2025

Pesquisa revela os personagens de ficção mais amados do mundo

 Gazeta da Torre

Realizada entre 2020 e 2023 com base em entrevistas com mais de 2.500 pessoas em 18 países dos cinco continentes, uma pesquisa mostra quem são os personagens de ficção mais amados no mundo.

“A pesquisa foi realizada em duas etapas”, afirma a professora Françoise Lavocat, da Université Sorbonne Nouvelle, em Paris, na França, coordenadora da iniciativa, que estará presente nesta quinta-feira na BBM. “A primeira envolveu questionários impressos nos quais estudantes foram solicitados a entrevistar seus amigos e familiares. A segunda fase envolveu questionários on-line traduzidos para vários idiomas e disponíveis em diferentes plataformas.”

Françoise destaca que há muito a se inferir e estudar a partir dos dados coletados. “Pudemos observar a desigualdade dos personagens em face da globalização: alguns são universalmente conhecidos, enquanto outros são conhecidos apenas pela população do país onde foram inventados. Capitu e Mônica, por exemplo, nunca saem do Brasil”, afirma a professora, lembrando que, por outro lado, personagens da dimensão de Harry Potter e Batman aparecem entre franceses, brasileiros, tibetanos exilados na Índia e taitianos, por exemplo.

No Brasil, as personagens de ficção mais citadas são Capitu (do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis), Batman, Mônica (criação do cartunista Maurício de Souza), Sherlock Holmes, Harry Potter e Brás Cubas (do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, também de Machado de Assis), enquanto Harry Potter, Homem Aranha, Sherlock Holmes e Batman são os personagens de ficção mais amados no mundo.

“Com essa pesquisa, é possível analisar como se dá o alcance de certas culturas e conteúdos e sua memória no século 21, quando os suportes são outros e os meios de circulação são vários”, afirma a professora Marisa Midori, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, organizadora do evento. “É um tema que pode interessar muito aos estudiosos da literatura, das multimídias e das intermídias.”

Fonte:Jornal da USP

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Rua Visconde de Albuquerque, 205, sala 401, Madalena, Recife 

(Centro Executivo Empresarial – Em frente ao posto Ipiranga); 

Contato:(81) 3074-6004

Recife realiza Semana das Juventudes

 Gazeta da Torre

Oficinas, palestras e mutirões de saúde fazem parte da programação que será realizada até o dia 31 de março

De 24 a 31 de março nossa cidade celebra a Semana Municipal das Juventudes 2025. Recheada de ações e eventos, a Semana traz como tema “O Futuro é Agora: Juventude em Ação pelos Direitos Humanos”.

A Semana das Juventudes do Recife tem como objetivos a promoção da cidadania, a liderança e a conscientização sobre os direitos humanos. Ela acontece em diversas regiões da cidade, levando especialistas e líderes para compartilhar suas experiências e conhecimentos com os participantes.

A Semana Municipal das Juventudes 2025 contará com a participação de especialistas e líderes que compartilharão conhecimentos e experiências. Para participar, não é necessário realizar inscrição, basta comparecer às atividades.

Programação


Fonte: PCR

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Ortobom Carrefour Torre

Musculação = Cérebro forte!

 Estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revelou que a musculação pode ser uma forte aliada na prevenção da demência e na proteção do cérebro de idosos.

O objetivo é manter a musculatura: quanto mais músculos, melhor a saúde do cérebro!

Que tal incluir um treino e alongamento na sua rotina?

Seu cérebro e seu corpo agradecem!

@edu.aymar Professor e instrutor de educação física

Fonte: https://agencia.fapesp.br/musculacao-protege-o-cerebro-de-idosos-contra-demencia-sugere-estudo/54124

𝗦𝗨𝗣𝗘𝗥𝗔 𝗥𝗲𝗰𝗶𝗳𝗲 𝗠𝗮𝗱𝗮𝗹𝗲𝗻𝗮 >

𝗧𝗿𝗶𝗰𝗮𝗺𝗽𝗲ã 𝗡𝗮𝗰𝗶𝗼𝗻𝗮𝗹 𝗲𝗺 𝗘𝘅𝗰𝗲𝗹ê𝗻𝗰𝗶𝗮 𝗣𝗲𝗱𝗮𝗴ó𝗴𝗶𝗰𝗮

𝗥𝗲𝗰𝗶𝗳𝗲/𝗣𝗘

𝘄𝗮𝗺𝗲/𝟱𝟱𝟴𝟭𝟴𝟮𝟵𝟵𝟮𝟱𝟱𝟭

domingo, 23 de março de 2025

Um governo fechado e indisposto para interagir com a sociedade

 Gazeta da Torre

Tinham uns dois ou três xeleléus da governadora que aplaudiam o afastamento da gestão em relação à classe política, enaltecendo essa conduta em nome de uma nova forma de fazer política no estado. Tratava-se, diziam, de um novo tempo que estaria sendo rechaçado por políticos viciados nos velhos métodos de cooptação. Era assim que enalteciam o descaso de um governo fechado e indisposto para interagir com a sociedade.

Gostaria de saber o que esses porta vozes das Princesas estão dizendo agora, depois que a governadora loteou o governo no mais autêntico estilo do velho toma lá-dá-cá. Será que estão decepcionados com o que juravam ser uma revolução nas práticas políticas em Pernambuco, ou já arrumaram um discurso pra justificar a queda impiedosa dessa “nova política”?

Por Waldemar Borges, Deputado Estadual

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sábado, 22 de março de 2025

O famoso CARAMBOLA – Figurinha carimbada do Mercado da Madalena

Redação Gazeta da Torre

Carambola e seu amigo no teclado
em um evento no Mercado da Madalena
José Cícero da Silva, o famoso Carambola, figura pitoresca que todos os finais de semana ajuda a animar o Mercado da Madalena embalado por um violão ou teclado e voz. No seu repertório tem até música internacional cantada em seu “carambolês” (inglês de Carambola).

“O apelido vem lá do bairro de Monsenhor Fabrício há muitos anos. Na minha casa havia um pé de carambola e toda vez quando eu saía, os bebuns me pediam carambola para servir como tira-gosto e de tanto eles me pedirem, passaram a me chamar carambola”, explica José Cícero. 

Carambola iniciou sua carreira artística nos anos 60, “em plena jovem guarda”, como ele faz questão de salientar. Iniciou sua carreira no Grupo Águias de Limoeiro, seguindo seu caminho em direção ao Circo Alakazam, onde antes de cada espetáculo sua banda se apresentava. De lá passou para outro circo, o Circo Orlando Orfei, onde encerrou sua trajetória em circos, voltando para Recife, tocando nas noites em bares. Após noites mal dormidas, conseguiu um lugar fixo para cantar, o Bar do Pintão, em frente ao terminal da Caxangá.


Do Bar do Pintão, Carambola conheceu o Mercado da Madalena, foi paixão à primeira vista. Sua identificação com o público foi o atrativo que faltava. Do mercado, Carambola todos os finais de semana bate o ponto. Lugar onde fez e ainda faz boas amizades e sua clientela. Hoje, Carambola toca de vez em quando na Confraria dos Chifrudos - Mercado da Madalena e em lugares que é contratado. Para quem já viu, Carambola não é só uma apresentação, é um show à parte. Ele canta Brega, Anos 60, Bossa Nova, Internacional, Baião, Pop, Xote, Frevo, MPB, Seresta e Forró. Um verdadeiro brega star que se tornou figurinha carimbada do nosso Mercado da Madalena.

Contato para show: (81) 9 8527-3730 - Carambola.

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terça-feira, 18 de março de 2025

Pernambuco recebeu do Governo Federal novas ambulâncias do SAMU

 Gazeta da Torre

Foi entregue 64 novas ambulâncias para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) em Pernambuco. As unidades móveis integram um pacote nacional de ambulâncias custeado pelo Governo Federal, que foram concedidas, na sexta-feira (14), em uma cerimônia solene com a presença de Lula e do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em Sorocaba, São Paulo.

As novas ambulâncias fazem parte de um esforço do governo do presidente para renovar e expandir a frota do SAMU em todo o território nacional. Este esforço faz parte de uma ampla estratégia para modernizar e ampliar a estrutura do serviço, que enfrentou sérias dificuldades de manutenção e renovação durante as gestões passadas.

Aldo Vilela, jornalista

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domingo, 16 de março de 2025

De acordo com o filósofo e economista Eduardo Giannetti, no Brasil, educação de má qualidade submete indivíduos a situação análoga à escravidão

 Gazeta da Torre

O filósofo e economista Eduardo Giannetti

Não há dúvidas de que o capital humano é central no processo dos desenvolvimentos econômico e social de qualquer país — e a educação é um dos pilares da formação de um capital humano qualificado.

O filósofo e economista Eduardo Giannetti alerta: a falta de acesso à educação de qualidade e ao domínio da linguagem tolhe as capacidades de expressão e articulação de pensamentos, desejos e escolhas dos indivíduos. Segundo ele, esse cenário restringe liberdades.

“Não adianta dizer a uma pessoa analfabeta que ela é livre para ler Machado de Assis, Nelson Rodrigues ou Guimarães Rosa. Assim como dizer a alguém que está passando fome de que ele é livre para ir ao melhor restaurante da cidade. É uma liberdade completamente vazia”, explica.

“A liberdade genuína, profunda, é quando a pessoa tem meios para exercer a escolha de ler, de gastar o dinheiro dessa ou daquela maneira. Caso contrário, é realmente uma piada de mau gosto dizer que um analfabeto é livre para fazer o que quer. Ele não é”, completa.

De acordo com Giannetti, a falta de acesso à educação no Brasil faz com que muitos vivam em uma situação análoga à escravidão. “É a escravidão da ignorância. O escândalo da má qualidade do ensino no Brasil é o análogo do século 21 à escravidão. É da mesma ordem de gravidade”, explica.

Em entrevista ao Canal UM BRASIL — uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) —, Giannetti também reflete sobre o momento atual da relações políticas e econômicas entre os países e alerta a respeito da necessidade de repensar os valores que norteiam a sociedade.

O filósofo também conversou com o UM BRASIL em 2018, quando destacou o tamanho do Estado brasileiro e o seu modelo de tributação. Já em 2022, em novo bate-papo, avaliou os desafios da humanidade frente à emergência climática. Neste ano, em evento que comemorou dez anos do Canal, Giannetti abordou os rumos do País diante das mudanças nas cadeias de distribuição globais.

O fim da hiperglobalização 

A partir da década de 1980, o mundo viveu um processo de hiperglobalização que gerou grandes impactos à interdependência entre os países. “Diante da possibilidade de obter um custo de produção muito mais baixo, houve um deslocamento em grande escala dos investimentos e dos fluxos de capital, buscando eficiência, produtividade e competitividade”, explica. “Isso levou a um grau de integração, e de internacionalização das relações econômicas, como jamais visto na história da humanidade.”

Para ele, a pandemia e as recentes tensões geopolíticas mundiais sacudiram essa profunda integração entre as nações. Mercados comerciais e financeiros foram completamente afetados pela vulnerabilidade às quais as cadeias produtivas foram expostas no último período.

“Como as cadeias globais de produção ficaram muito concentradas em poucos fornecedores, o que a pandemia e as guerras demonstraram é que, se há um problema num elo da cadeia, toda essa cadeia para de funcionar”, afirma. Giannetti cita, como exemplos, o mercado de chips de alta tecnologia, concentrados em Taiwan, foco de tensões geopolíticas, e o mercado de produtos farmacêuticos ativos, até então concentrados na China e na Índia.

“Frente a essa vulnerabilidade, a lógica da eficiência e da produtividade, que presidiu a hiperglobalização, passou a ser questionada. Esta pressupõe uma estabilidade e um grau de confiabilidade de fornecedores com o qual não se pode contar”, completa. Segundo Giannetti, hoje, a tendência dos países é buscar um novo sistema que garanta segurança e diversificação às próprias economias.

Desinformação

Outra tendência global que se aprofundou na última década foi a desinformação. As fake news já se mostram um fenômeno consolidado nas dinâmicas social e política dos países em todo o mundo. Nesse contexto, o filósofo reflete sobre o que chama de “sincronia do autoengano”.

De acordo com ele, em diversas situações, as sociedades vivem algo ainda mais perigoso que a criação e a difusão consciente de mentiras e notícias falsas. Há casos em que as pessoas sabem que estão compartilhando desinformação. Em outros (ainda mais críticos), se convencem de que as mentiras compartilhadas são verdadeiras.

“Existem situações em que se tem uma espécie de sincronia do autoengano. Muitas pessoas embarcam coletivamente em uma mentira que contam para si mesmas”, ressalta. “Indivíduos contrariados, desapontados, ressentidos, que têm muito medo, acabam se apegando a tudo aquilo que reforça o que eles acreditam.”

Segundo Giannetti, muitos atores políticos se tornaram especializados em alimentar a raiva, a insatisfação e a descrença coletivas. “Esse mecanismo é tão antigo quanto a humanidade. A novidade é a tecnologia, que permite uma rápida e contagiosa viralização da sincronicidade do autoengano”, completa.

Questão ambiental

O economista ainda questiona se será necessária uma “pedagogia da dor” para que os países adotem, de fato, um desenvolvimento sustentável e preocupado com a emergência climática.

“Terá de haver muito sofrimento para que, finalmente, aconteça algum tipo de ação mais decisiva quanto às mudanças que nós vamos ter que encarar para resolver esse problema”, afirma. De acordo com ele, repensar o modelo atual de sociedade passa por ponderar acerca  da forma como países e governos lidam com a questão ambiental.

“Esse obstáculo tem duas características com as quais não estamos acostumados a lidar. A primeira nos obriga a pensar numa dimensão temporal longa, para a qual nós não estamos adaptados, que é pensar 50 ou 100 anos à frente”, diz.

Levando em conta os próprios mandatos, os governantes têm à vista apenas os próximos quatro ou oito anos. “Provavelmente, qualquer tentativa de pensar num prazo muito longo será custosa do ponto de vista eleitoral e da viabilidade política daquele grupo”, completa

Outro desafio referente ao assunto é que nenhum país pode resolvê-la de forma isolada. “É um momento no qual as fronteiras nacionais se tornam muito relativas. Os problemas que estamos enfrentando hoje são de abrangência e amplitude planetárias, que estão muito além da capacidade de qualquer nação isoladamente resolver”, conclui.

Fonte: Plataforma UM BRASIL

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terça-feira, 11 de março de 2025

Consumo excessivo de ultraprocessados aumenta em até 58% o risco de depressão

 Gazeta da Torre

Pesquisa avaliou mais de 14 mil pessoas ao longo de oito anos; participantes que ingeriam alimentos minimamente processados não apresentaram depressão no período

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão afeta quase 6% da população brasileira, o que corresponde a cerca de 12 milhões de pessoas. No mundo, são mais de 300 milhões de diagnósticos. O tratamento envolve terapia e medicação, mas o gerenciamento da doença também passa pela busca de um estilo de vida mais saudável, priorizando atividade física, alimentação e sono equilibrados. Diversos estudos associam estes fatores a uma melhora global e duradoura.

No caso da relação entre hábitos alimentares e depressão, porém, “muito do que se sabe vem de pesquisas conduzidas em países ricos”, conta Naomi Ferreira, pós-doutoranda da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), destacando a falta de dados que considerem a realidade dos países de baixa e média renda. Pensando em diminuir essa lacuna, ela liderou um estudo com brasileiros focado especialmente na relação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e a incidência e persistência da condição psíquica. A pesquisa envolveu mais de 14 mil pessoas, com dados coletados ao longo de oito anos, e revelou que uma dieta com alto teor destes produtos tem um impacto substancial no risco de depressão persistente.

A pesquisa teve o apoio do Laboratório de Fisiopatologia no Envelhecimento (Gerolab), que investiga o envelhecimento e as doenças crônico-degenerativas associadas. Claudia Suemoto, professora de Geriatria da FMUSP e diretora do Biobanco do Gerolab, já verificou anteriormente a associação entre o consumo de ultraprocessados e o declínio cognitivo na terceira idade, e foi responsável por supervisionar o trabalho recente. “Os ultraprocessados têm sido estudados em relação a vários desfechos de saúde”, explica Naomi. O artigo também contou com a participação de profissionais do Instituto de Psiquiatria (IPq) e da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.

“As pesquisadoras da FSP trabalharam com o Carlos Monteiro, cientista brasileiro que descreveu pela primeira vez a classificação de ultraprocessados”, continua Naomi. Essa classificação, utilizada amplamente em escala mundial, divide os alimentos em quatro grupos: in natura ou minimamente processados; ingredientes culinários processados; alimentos processados; e ultraprocessados (que contêm aditivos como corantes e emulsificantes). No contexto da pesquisa, os grupos 1 e 2 foram unidos, pois os ingredientes são comumente usados na preparação e tempero de alimentos naturais.

Ao longo do estudo, houve três períodos de avaliação (ondas): 2008 a 2010, 2012 a 2014 e 2017 a 2019. Dentre os 13.870 participantes anteriormente livres de depressão, o grupo que consumia alimentos não processados ou minimamente processados não apresentou depressão em nenhuma das ondas avaliadas.

Publicada no Journal of Academy of Nutrition and Dietetics, a investigação foi realizada a partir de dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), que acompanha a saúde de servidores públicos de seis capitais entre 35 e 74 anos. O Elsa acontece em diversos centros no País, e tem como objetivo avaliar o risco na população brasileira para doenças crônicas, em especial, as cardiovasculares e o diabetes. É considerado um levantamento fundamental para a adequação de políticas públicas de saúde às necessidades nacionais. Um dos enfoques do estudo é a dieta da população, associada às condição de vida, diferenças sociais, relação com o trabalho e gênero.

“O Elsa é um marco, porque é um estudo epidemiológico com um acompanhamento longo, e envolve uma população de quase 15 mil pessoas”, destaca Naomi. “Esses dados são muito importantes para entender um fenômeno que já é analisado em outros contextos socioculturais, mas que tem suas peculiaridades num País como o nosso, composto de desigualdades e adversidades do ponto de vista socioeconômico. ”

Perigo dos ultraprocessados

Informações consolidadas na ciência confirmam que uma alimentação primordialmente in natura auxilia a suprir as necessidades do corpo humano, reduzir a hipertensão e atrasar a neurodegeneração em pessoas de idade avançada. A chamada “dieta mediterrânea” fornece alto teor de antioxidantes e baixas quantidades de gorduras saturadas e açúcares adicionados: consequentemente, o estresse oxidativo é reduzido, e os níveis inflamatórios cerebrais diminuem. “A dieta mediterrânea é caracterizada por um consumo importante de frutas, legumes e verduras, e um consumo baixo de carne vermelha”, comenta Naomi Ferreira.

Em contrapartida, o consumo diário de ultraprocessados está relacionado ao aumento de processos inflamatórios, tanto do ponto de vista sistêmico quanto de neuroinflamação, propiciando perfis desregulados de neurotransmissores cerebrais. “A dieta ocidental que a população mundial tem aderido, muito baseada em fast foods e comidas prontas, tem um alto teor de calorias vazias — ou seja, você ingere a caloria, mas o corpo continua carecendo de nutrientes fundamentais”, aponta.

“A constituição do alimento ultraprocessado pode causar desequilíbrios na microbiota intestinal”, continua a pesquisadora. O eixo intestino-cérebro, que liga o sistema nervoso entérico ao central, participa da relação: vitaminas e minerais são cruciais para o bom funcionamento do sistema nervoso, e sua ausência aumenta o risco de diversas doenças, como demência e Alzheimer. “A intensa deposição das proteínas em um ambiente com mais marcadores inflamatórios predispõe o indivíduo a apresentar sintomas neurodegenerativos”, diz.

Métodos de investigação

Para quantificar a incidência da depressão nos pacientes, o principal método utilizado foi o Clinical Interview Schedule-Revised (CIS-R), uma entrevista validada para sintomas psiquiátricos. O CSI-R se baseia em cinco aspectos: fadiga, concentração ou esquecimento, distúrbios do sono, depressão e ideias depressivas.

Os dados coletados foram comparados com as respostas de um questionário de frequência alimentar, que avalia padrões alimentares no período de um ano com base em 114 itens. Por fim, foi realizada a análise de Cox, que informa o risco do indivíduo desenvolver a depressão ou não, de acordo com seus hábitos. “Aqueles que consumiam mais ultraprocessados no início do estudo apresentaram um risco 30% maior de desenvolver o primeiro episódio de depressão”, realça a Dra. Naomi.

O maior diferencial da pesquisa, entretanto, foi o enfoque dado à persistência da doença ao longo dos oito anos. A análise de Cluster, um software estatístico, classificou os participantes do estudo em três grupos: nenhum diagnóstico de depressão, diagnóstico em somente uma das avaliações, e diagnóstico em duas ou mais avaliações. Juntamente a essa estratégia, uma análise de regressão multinomial avaliou o consumo de ultraprocessados de 1 a 4 e associou ambos os resultados.

“O resultado da depressão persistente foi inesperado porque não se tinha muitos estudos sobre isso, sabíamos muito pouco a respeito”, afirma a cientista. Os indivíduos que registraram maior consumo de ultraprocessados no início do estudo tiveram mais diagnósticos nas avaliações subsequentes: em relação ao grupo 1, o risco de depressão persistente dos integrantes do grupo 2 foi 30% maior; o risco do grupo 3 foi 39% maior, e com relação ao grupo 4, o risco foi 58% maior.

Condição e estilo de vida

O estudo também levou em consideração variáveis associadas para o desenvolvimento da depressão, como aspectos sociodemográficos e dados clínicos.

Portanto, a pesquisa também questionou os participantes sobre seus hábitos, como consumo excessivo de álcool, tabagismo e frequência de atividade física.

Os resultados revelaram associações a múltiplos fatores: jovens, mulheres, negros ou pardos, fumantes, pessoas de baixa renda, pessoas com maior ingestão total de energia diária e maior Índice de Massa Corporal (IMC) eram mais propensos a receber o diagnóstico na primeira avaliação. Por outro lado, participantes com um diploma universitário, casados e fisicamente ativos eram menos propensos a sofrer com a depressão.

A cientista também ressalta que o alto consumo de ultraprocessados leva ao sobrepeso e à obesidade, e essas condições aumentam o risco cognitivo em geral. Para ela, um grande desafio é conscientizar a população da importância de refletir sobre seus hábitos alimentares.

“Se só pensarmos na gratificação a curto prazo, podemos sacrificar o longo prazo com um transtorno mental e com diversas outras doenças a que os ultraprocessados estão associados.”

Pelo lado positivo, a análise estatística da substituição de alimentos demonstra que uma pequena diferença já pode surtir efeitos relevantes: substituindo 5% do consumo de ultraprocessados pela mesma quantidade calórica em alimentos minimamente processados, o risco de um indivíduo desenvolver depressão ao longo dos anos diminui em 6%. Ao substituir 20% desses produtos, é possível reduzir a probabilidade em 22%.

Solucionar este problema em nível social, entretanto, é uma tarefa complexa, visto que a diversidade socioeconômica da população brasileira interfere diretamente no acesso à alimentação de qualidade. “Os ultraprocessados são produzidos de forma a aguentar por muito mais tempo na prateleira, então são financeiramente mais acessíveis do que o alimento in natura, e por isso pessoas de renda mais baixa tendem a consumi-los”, finaliza a pesquisadora.

Fonte:Jornal da USP

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domingo, 9 de março de 2025

País sem leitores é país sem pensamento, por NÉLIDA PIÑON

 Gazeta da Torre

A escritora Nélida Piñon

“Teria de haver uma revolução social, no sentido de infundir ânimo por conhecimento nas pessoas – saber torna uma pessoa fascinante”, analisa a escritora, imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) e primeira mulher a ter presidido a instituição, Nélida Piñon.

Em entrevista ao UM BRASIL, ela comentou os desafios de criar um país com mais leitores, as dificuldades de acesso aos livros e a presença das mulheres na literatura nacional. “Os pais deveriam ter a literatura como um bem almejado para os filhos”, defende. Ainda falta nos brasileiros uma busca pela ascensão social por meio do saber e dos livros, segundo ela.

“Temos de provar aos jovens brasileiros que quando você sabe, você é até eroticamente mais interessante”, explica Nélida. “Você quer ao seu lado pessoas que te estimulem a ver o mundo de uma maneira dilatada através do viés da imaginação.” Sobre as escolas brasileiras, ela diz que é necessária uma mudança estrutural. “Aqui você não aprende o que é essencial sobre o trabalho educacional: ouvir, pensar, responder, contestar, buscar uma mínima soberania das ideias”, observa.

Na visão da escritora, nossa sociedade não tem apreço pela cultura em sua forma oficial (como os livros), além de não termos formação educacional para entendermos o que lemos. “Deve-se entender as nuances contidas num livro”, explica. O sistema terá de ser revigorado e refeito, no entendimento da entrevistada.

“Como você pode fortalecer o sistema educacional para uma criança que não tem casa? Uma criança brasileira não tem lugar onde ler, só isso já é um drama”, justifica. Para Nélida, somos uma sociedade que, de algum modo, disfarçou suas precariedades por meio da imitação. “Imitamos os modismos que vinham do exterior e somos muito vulneráveis ao que vem de fora, que automaticamente desvaloriza o que é produzido aqui dentro”.

Para a imortal da ABL, não nos damos conta de que, ao abraçar o que vem de fora, não conseguimos criar contraste entre o estrangeiro e o que temos. “Diria que somos excessivamente colonizados”, conclui. Nélida explica ainda que tem um posicionamento muito claro sobre a participação das mulheres na literatura.

“A nossa sociedade é indulgente com o homem: ele pode ter uma obra não tão significativa e é quase imediatamente aplaudido. É oficialmente lido pelas classes determinantes do poder literário. Quando a mulher é lida, as mesmas pessoas simulam que não leram, para não ter de dizer uma palavra favorável a respeito dela”, enfatiza.

Apesar de reconhecer que a mulher chegou tardiamente ao mundo clássico da cultura, pois não podia ler ou escrever, ela diz que temos mais mulheres escritoras importantes que as estatísticas indicam. “Muitas mulheres que são importantes escritoras não são alçadas à categoria da plenitude e do conhecimento, pois são postas à margem.”

Entre os 40 membros efetivos da ABL, apenas cinco são mulheres. Nélida foi a primeira mulher a presidir a instituição e exerceu seu mandato no ano do centenário da ABL. “Exerci uma presidência com soberania e plenitude, porque ninguém me controlou. A comunidade masculina não se dá conta que está faltando uma figura invisível, que é a mulher, mas é um fato que as pessoas cada vez mais estão se dando conta.”

Ainda sobre esse tema, ela entende que a língua portuguesa tem características machistas (como os plurais que são, em sua maioria, no masculino, por exemplo). “A língua tem decisões machistas, mas é machista sobretudo porque o homem fala o tempo todo e não deixa a mulher falar”, afirma Nélida. “Sou uma feminista histórica, muito consciente e atenta. Busco a beleza no texto e tenho empenho de reverenciar a língua portuguesa.”

Segundo ela, a sociedade vai ter de ser trabalhada e vai buscar soluções para essa questão. Já sobre o fato de escritores brasileiros serem pouco conhecidos no exterior, ela afirma que isso deriva de várias razões, entre elas, o fato de poucos brasileiros escritores terem ido viver longas temporadas na Europa. “Houve uma vacância nossa nos grandes centros decisórios. Não há uma política de expansão cultural nossa e a diplomacia brasileira nunca se empenhou nisso”, diz.

Acerca da política nacional, ela se afirma tão perplexa quanto qualquer outra pessoa. “Parece-me que é um dano que não tem reparação. Como vamos voltar a acreditar que nossas utopias do passado eram possíveis?”, questiona. Segundo ela, a criação de Brasília quebrou a coluna vertebral no Brasil e deixou vácuos no poder. “Criou-se um império do qual o brasileiro foi expulso.”

Fonte:UM Brasil

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sábado, 8 de março de 2025

A violência contra a mulher é um sintoma trágico em uma sociedade em vias de destruir a democracia

 Gazeta da Torre

Herdamos, no Brasil, um passado banhado de sangue. Por quase 500 anos prevaleceu o direito de matar impunemente homens e mulheres negros que ousavam se rebelar contra maus tratos de seus “proprietários”. Aos rebelados, a pena de morte. Não é de estranhar a cruel violência patriarcal herdada que prevalece até o presente e que se expandiu por todas as camadas da população.

O aumento extraordinário de feminicídios e estupros de mulheres e meninas são noticiados nas redes sociais, nos jornais e exibidos na tv em programas que podem ser vistos em qualquer horário do dia ou da noite. O tema, dramatizado em cenas cruas, quase não espanta mais. E, pior ainda, é banalizado por profissionais que os deveriam punir (veja-se o caso Mariana Ferrer entre outros).

Desde o século 19, jornalistas, escritoras, intelectuais, militantes políticas, feministas denunciam a subordinação das mulheres cujas liberdades são constrangidas pela tutela do pai, do marido e até do irmão. O comportamento da dominação patriarcal reproduziu-se entre chefes, mestres de fábrica, empregadores, e foi incorporado até mesmo por companheiros de partidos políticos.

Foram décadas de lutas dos movimentos feministas para superarem obstáculos e conquistarem a cidadania – desde o direito ao voto, a eleição de mulheres para as Câmeras, o direito ao próprio corpo. Mesmo e sobretudo durante as ditaduras de Getúlio ou de 1964-1985, os movimentos feministas não deixaram de enfrentar opositores armados, buscando implantar os direitos humanos para todos e especialmente para as mulheres. A militância ensinou às mulheres que o poder estava na mão do Estado do qual estavam excluídas. Em resposta, os movimentos feministas elaboraram estratégias para participar das instituições estatais e elaboraram uma instituição original, o Conselho Estadual da Condição Feminina (em São Paulo, 1992, e logo a seguir em Minas, e depois em quase todos os estados).

Em meio a múltiplas demandas, ações contra a violência, o machismo, o assassinato de mulheres eram prioritárias. No imaginário social, havia um único caminho para as camadas populares e médias: recorrer às delegacias de polícia. Buscar um advogado era serviço aventado apenas pelas camadas ricas. Quando uma mulher era fortemente agredida por seu companheiro ou marido, a delegacia de polícia era, em última instância, a autoridade máxima. Desnecessário relatar que em geral, naquela instituição, as mulheres eram desconsideradas, os casos minimizados e elas eram e são ainda, por vezes, aconselhadas pelas “autoridades” a voltarem para casa e ficarem quietinhas. Ao criar a Delegacia da Mulher (1985), a expectativa era que fossem recebidas como pessoas com direitos, o que de fato ocorreu após muitos treinamentos. As profissionais destas delegacias, por sua vez, e por serem mulheres, tiveram múltiplas dificuldades para terem suas carreiras reconhecidas.

A partir da década de 1990, o Brasil assinou vários acordos internacionais que reconheciam os direitos humanos das mulheres, ampliando o campo da não violência. A lei Maria da Penha insere-se na articulação entre o movimento feminista brasileiro e o campo internacional, pois, lembremos, o agressor de Maria da Penha foi por duas vezes absolvido, até que o caso foi levado à Comissão Latino-Americana dos Direitos Humanos. Justiça seja feita a um grande grupo de feministas que se empenhou para que afinal Maria da Penha tivesse seu caso revisto. A Lei Maria da Penha foi sancionada em 7 de agosto de 2006, portanto, há 18 anos, mas durante esse período centenas de brasileiras foram assassinadas e meninas estupradas e mortas.

Atualmente, quando ameaçada de morte por companheiro, marido, ou outros homens com quem mantém relações afetivas, a mulher já não suporta mais e pressente o pior, ela recorre a um juiz para obter uma “medida protetiva”. Esse instrumento de proteção foi altamente procurado e encontrou apoio no Judiciário.

É claro que essas medidas protetivas são importantes, mas não bastam para eliminar o feminicídio. Visando aperfeiçoar o atendimento, o serviço policial desenvolveu a Patrulha Maria da Penha, para prevenir ataques às mulheres com medidas protetivas e outras ameaças. Esse programa começou em 2012 em Porto Alegre, em 2019 no Rio de Janeiro e, em 2020 em São Paulo. Finalmente o programa foi apresentado e aprovado no Senado para vigorar no País todo em 2021, há quatro anos! Não foi implantado ainda. Embora a Patrulha Maria da Penha seja importante e tenha resultados positivos, é irreal supor que ela venha se estender ao País todo. Outra medida eficiente e factível é o telefone 180 para atender mulheres em perigo ou que precisam de orientação. Há ainda outra linha telefônica, o 190, que se liga diretamente à polícia quando o caso é extremo e tem evitado feminicídios no Brasil e no exterior.

O sucinto retrospecto sobre medidas para evitar violências contra a mulher e a menina aqui feito destacou medidas para defender e fortalecer as mulheres. Essa avaliação permite apontar uma importante lacuna: nesse quadro, onde estão os homens? E os meninos? Se queremos criar uma sociedade igualitária, que respeite os direitos humanos de todos, é necessário completar o planejamento com políticas e programas para os homens. Há no Brasil um tímido movimento de educação masculina, “grupos reflexivos”, e há juízas e juízes que encaminham homens “em situação de violência” para esses programas. Em 2020, havia 312 grupos reflexivos voltados para encaminhar homens autores de violência contra mulheres no Brasil. Os resultados apontam que após frequentarem as reuniões por algumas semanas, os participantes desenvolvem novos comportamentos em suas relações sociais e familiares.

Se quisermos tornar os comportamentos masculinos não violentos, não agressivos, não se pode esperar que cheguem à idade adulta. A orientação sobre igualdade de gênero deve se iniciar desde a primeira infância para meninos e meninas: educar e socializar com programas que destaquem a igualdade nas relações sociais de gênero, com respeito às diferenças – de classe, gênero, cor, etnia.

Há enorme e forte reação a esse tipo de projeto. Uma parcela da população, politicamente de direita, cria obstáculos tanto práticos como ideológicos. No Legislativo, apresentaram pelo menos dois projetos: Educação em Casa e Educação Militar. O primeiro pretende restringir experiências extradomiciliares e implica no fortalecimento de um controle patriarcal, conservador, impedindo diversidade religiosa e sexual. O segundo, ainda acrescenta apagar a educação crítica e impõe comportamentos autoritários.

Recompondo todo o longo esforço para reduzir o feminicídio e face ao seu crescimento, vale pensar que a violência contra a mulher e a menina é um trágico sintoma de uma sociedade que caminha para destruir a democracia.

Ainda é tempo de refletirmos.

Por Eva Alterman Blay, professora titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Uma das pioneiras em pesquisas sobre as questões da mulher e as relações sociais de gênero, como participação política. Publicou livros e artigos sobre questões urbanas, habitação operaria, participação política da mulher, Violência contra a mulher, Feminismo e masculinidades e Imigração Judaica. É membro de várias associações cientificas internacionais e nacionais. Consultora do grupo de investigação MCCLA ( Mulheres, Cultura, Ciência, Letras e Artes) da Cátedra Convidada Infante Don Henrique pra Estudos Insulares, Atlânticos e a Globalização.

Fonte: Jornal da USP