Gazeta da Torre
Escassez de meios naturais de drenagem afeta o combate a
enchentes e ilhas de calor, segundo Alejandro Dorado, pesquisador do Centro de
Síntese Cidades Globais do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP
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Recife, área urbana, em dia de chuvas fortes |
Essa situação reforça a falta de investimento em meios
sustentáveis de resolução de problemas ambientais e humanos, como as enchentes.
Alejandro Dorado, pesquisador do Centro de Síntese Cidades Globais do Instituto
de Estudos Avançados (IEA) da USP, conta sobre os tipos de drenagem sustentável
existentes hoje. “A drenagem urbana sustentável é um conjunto de soluções que
buscam imitar o ciclo natural da água. Os principais tipos atualmente são os
pavimentos permeáveis, por exemplo, pisos que permitem infiltração de água,
como um concreto poroso. Também existe a implementação de telhados verdes, que
são coberturas colocadas na parte de cima dos edifícios, com vegetação que
retém e filtra a água da chuva. Além dos conhecidos wetlands” ou áreas verdes,
áreas úmidas e artificiais com plantas aquáticas, que podem tratar a água
pluvial ou esgoto de uma forma natural.”
Atraso evidente
A drenagem sustentável difere dos meios tradicionais pelo
seu objetivo final. Enquanto meios naturais buscam reter, tratar e filtrar a
água localmente, em sua maioria, vias mais antiquadas e ultrapassadas tendem a
escoar rapidamente a água da chuva para longe, para rios ou lagos. De acordo
com o pesquisador, por mais que resolvam a questão em um curto período de
tempo, métodos tradicionais causam grandes problemas a longo prazo, como
poluição, impermeabilização do solo e degradação ambiental. Assim, os baixos
índices de adesão dos municípios brasileiros em vias sustentáveis demonstra o
atraso nacional na questão.
No País, segundo a pesquisa, os meios naturais de
drenagem que predominaram foram as valas de infiltração (40,8%), seguidas pelos
parques urbanos (35,3%). A drenagem se divide em dois tipos: micro e
macrodrenagem. A primeira disciplina a água das chuvas na área urbana através
dos pavimentos das ruas, guias e sarjetas, bocas de lobo, poços de visita,
entre outros. Já a segunda diz respeito aos canais que recebem as águas da
microdrenagem e são responsáveis pelo escoamento final das águas através dos
canais naturais ou artificiais.
As políticas públicas
Tendo em vista os problemas ambientais e urbanos sofridos
por grande parte das cidades brasileiras, como as enchentes e ilhas de calor, é
imprescindível investimentos em drenagem sustentável. “Ampliar o uso de
mecanismos naturais é fundamental, por várias razões: para a redução de
enchentes, para a melhoria da qualidade da água, aumento da resiliência
climática, a valorização ambiental e social, a redução de custos a longo prazo
e, finalmente, a conservação da biodiversidade”, afirma Dorado.
Iniciativas nacionais, como a Política Nacional de
Saneamento Básico, têm estimulado as cidades brasileiras a adotarem meios
naturais para drenar as águas, advindas da chuva ou não. Contudo, para o
pesquisador, as políticas públicas ainda são muito incipientes e desiguais ao
redor do País. “Eu diria que os métodos naturais de drenagem são instrumentos
de cuidado social, adaptação climática e saneamento ambiental integrado e que
precisam de políticas públicas mais robustas e integração entre urbanismo, meio
ambiente e saneamento para poder expandi-los.”
Fonte: Jornal da USP
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