quarta-feira, 4 de junho de 2025

Atraso nos métodos de drenagem agrava problemas ambientais e urbanos do País

 Gazeta da Torre

Escassez de meios naturais de drenagem afeta o combate a enchentes e ilhas de calor, segundo Alejandro Dorado, pesquisador do Centro de Síntese Cidades Globais do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP

Recife, área urbana, em dia de chuvas fortes

Essa situação reforça a falta de investimento em meios sustentáveis de resolução de problemas ambientais e humanos, como as enchentes. Alejandro Dorado, pesquisador do Centro de Síntese Cidades Globais do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, conta sobre os tipos de drenagem sustentável existentes hoje. “A drenagem urbana sustentável é um conjunto de soluções que buscam imitar o ciclo natural da água. Os principais tipos atualmente são os pavimentos permeáveis, por exemplo, pisos que permitem infiltração de água, como um concreto poroso. Também existe a implementação de telhados verdes, que são coberturas colocadas na parte de cima dos edifícios, com vegetação que retém e filtra a água da chuva. Além dos conhecidos wetlands” ou áreas verdes, áreas úmidas e artificiais com plantas aquáticas, que podem tratar a água pluvial ou esgoto de uma forma natural.”

Atraso evidente

A drenagem sustentável difere dos meios tradicionais pelo seu objetivo final. Enquanto meios naturais buscam reter, tratar e filtrar a água localmente, em sua maioria, vias mais antiquadas e ultrapassadas tendem a escoar rapidamente a água da chuva para longe, para rios ou lagos. De acordo com o pesquisador, por mais que resolvam a questão em um curto período de tempo, métodos tradicionais causam grandes problemas a longo prazo, como poluição, impermeabilização do solo e degradação ambiental. Assim, os baixos índices de adesão dos municípios brasileiros em vias sustentáveis demonstra o atraso nacional na questão.

No País, segundo a pesquisa, os meios naturais de drenagem que predominaram foram as valas de infiltração (40,8%), seguidas pelos parques urbanos (35,3%). A drenagem se divide em dois tipos: micro e macrodrenagem. A primeira disciplina a água das chuvas na área urbana através dos pavimentos das ruas, guias e sarjetas, bocas de lobo, poços de visita, entre outros. Já a segunda diz respeito aos canais que recebem as águas da microdrenagem e são responsáveis pelo escoamento final das águas através dos canais naturais ou artificiais.

As políticas públicas

Tendo em vista os problemas ambientais e urbanos sofridos por grande parte das cidades brasileiras, como as enchentes e ilhas de calor, é imprescindível investimentos em drenagem sustentável. “Ampliar o uso de mecanismos naturais é fundamental, por várias razões: para a redução de enchentes, para a melhoria da qualidade da água, aumento da resiliência climática, a valorização ambiental e social, a redução de custos a longo prazo e, finalmente, a conservação da biodiversidade”, afirma Dorado.

Iniciativas nacionais, como a Política Nacional de Saneamento Básico, têm estimulado as cidades brasileiras a adotarem meios naturais para drenar as águas, advindas da chuva ou não. Contudo, para o pesquisador, as políticas públicas ainda são muito incipientes e desiguais ao redor do País. “Eu diria que os métodos naturais de drenagem são instrumentos de cuidado social, adaptação climática e saneamento ambiental integrado e que precisam de políticas públicas mais robustas e integração entre urbanismo, meio ambiente e saneamento para poder expandi-los.”

Fonte: Jornal da USP

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