segunda-feira, 2 de março de 2015

Clima na Rússia é bastante tenso e frágil após assassinato de ícone da oposição


Dezenas de milhares de pessoas participaram neste domingo no centro de Moscou de uma manifestação em homenagem ao líder opositor russo Boris Nemtsov, assassinado na sexta-feira na capital russa, segundo jornalistas da AFP no local.

"Estimamos que mais de 70.000 pessoas vieram", declarou à AFP Alezander Riklin, um dos organizadores da marcha, que contava com a autorização do governo russo. Por sua vez, a polícia calculava 21.000 presentes.

A participação ultrapassou com folga as convocações da oposição nos últimos tempos, e lembrou as grandes manifestações organizadas em 2011 e 2012 contra Vladimir Putin.

Embora não tenha sido registrado nenhum incidente durante a marcha, um deputado ucraniano que havia viajado a Moscou para comparecer ao ato, Alexei Goncharenko, foi detido pela polícia antes do início da manifestação. "É acusado de rebelião contra as forças de ordem pública", indicou seu advogado Mark Feiguin, citado pela agência RIA Novosti.

Goncharenko goza de imunidade diplomática como membro da Assembleia parlamentar do Conselho da Europa, razão pela qual deve ser colocado em liberdade em breve, considerou.

Morreu por uma Rússia livre

"Morreu pelo futuro da Rússia" ou "Lutou por uma Rússia livre" eram algumas das frases escritas nos cartazes dos manifestantes.

"É um assassinato político para dar exemplo, para aterrorizar o povo. Agora o terror político vai se intensificar", declarou um manifestante, Alexander Akulin.

Nemtsov, morto a tiros na noite de sexta-feira em uma ponte próxima ao Kremlin, deveria liderar neste domingo uma manifestação contra a "agressão de Vladimir Putin" à Ucrânia e em favor do fim do conflito no país.

Outras 6.000 pessoas, algumas envolvidas em bandeiras ucranianas, se reuniram em São Petersburgo, a segunda cidade do país, para protestar contra o assassinato do político, muito crítico a Vladimir Putin.

Milhares de pessoas se concentraram para homenageá-lo em Ekaterinburgo, nos Urais, e em Tomsk, na Sibéria. No exterior, foram organizadas concentrações em Paris, Kiev, Budapeste, Varsóvia e Vilnius.

Crime político

No sábado, a oposição russa denunciou um crime político. As potências ocidentais exigiram uma investigação profunda, e o presidente Putin prometeu "que será feito todo o possível para que os responsáveis por planejar e executar este crime atroz recebam a punição que merecem".

O Comitê de Investigação afirmou que o assassinato de Nemtsov pode estar ligado "à situação dentro da Ucrânia", ou também ao massacre no semanário satírico francês Charlie Hebdo, já que o político havia recebido ameaças depois de condenar o ocorrido.

Para Putin, o objetivo do crime é desacreditar as autoridades russas. Segundo ele, "leva as marcas de um assassinato por encomenda, e tem todos os sinais de uma provocação".

Nemtsov temia por sua vida

Segundo os investigadores, o assassinato foi meticulosamente planejado. No momento do crime, Nemtsov cruzava a Grande Ponte de Pedra com uma jovem identificada pela imprensa russa como a modelo ucraniana Anna Duritskaya, de 23 anos e que saiu ilesa do ataque.

No sábado foi divulgada a informação de que nas últimas semanas Nemtsov temia por sua vida devido a sua oposição a Putin.

Os líderes ocidentais, entre eles o presidente americano, Barack Obama, condenaram no sábado este assassinato brutal, e pediram uma investigação rápida e eficaz.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também criticou o assassinato, e segundo seu porta-voz "espera que os autores sejam levados em breve à justiça".

Nemtsov, bom orador, participou de diversas manifestações contra o retorno de Putin à presidência russa em 2012, e desde então não parou de criticar a corrupção no país e, nos últimos meses, a política russa no conflito ucraniano.


Fonte: AFP



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