quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Começam os temporais de verão e, com eles, o transtorno

 Gazeta da Torre

Centro do Recife com chuvas

“Acabar com as inundações radicalmente parece absolutamente impossível”, diz a arquiteta Raquel Rolnik, urbanista e professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP

Segundo a arquiteta Raquel Rolnik, o fato de a capital ser rica permite mudanças estruturais que, “se não acontecerem, todos os anos veremos o mesmo cenário com as chuvas”.

– O problema é a concentração de oportunidades de emprego num território restrito, caríssimo e bloqueado para ser compartilhado pelas maiorias. Isso é o que nós temos que mudar. É uma mudança estrutural e se ela não acontecer, todos os anos veremos o mesmo cenário com as chuvas. Não tratam a terra urbana com a sua função social, de acordo com a Constituição – afirma Raquel.

- A questão das moradias em áreas de risco é falaciosa. Porque, a rigor, tudo o que está em várzea ou em encosta está em risco. E o engraçado é que, quando se fala em moradias em áreas de risco, só se fala nas de baixa renda, como se o resto não fosse – explica a engenheira.

Hoje tem política habitacional forte no município, Estado e governo federal. Existe uma mudança em relação ao cenário de dez anos atrás. Mas, em grosso modo, nós temos dois tipos de política para onde vai muito dinheiro: na urbanização de favelas, para consolidar, melhorar, ordenar. Isto está rolando, está aumentando. O segundo tipo é a produção de moradia nova, como faz o Minha Casa Minha Vida. Nas regiões de baixa renda, o programa trabalha com populações de quatro ou cinco salários mínimos. Mas a grande demanda está na faixa que recebe de zero a três salários mínimos, e que não tem alternativa senão ir para dentro do córrego ou para cima da encosta. Ainda não estamos oferecendo nas regiões metropolitanas opções de moradia de baixa renda fora da área de risco. Ou seja, os pobres continuam na mesma.

As pessoas se perguntam: qual é a obra que vai transformar? Este é o raciocínio da gestão de obras e não do uso do solo e de políticas fundiárias, que são coisas abstratas, ninguém inaugura ou corta a fitinha. Mas, sem essas políticas, não vamos mudar nada.

Fonte: Blog da Raquel Rolnik

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Torre - Recife

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