quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

A história de seu José Sebastião, nascido na década de 1930

 Gazeta da Torre

- Contas mudam e, com o tempo, merecem revisão -

Nascido na década de 1930, seu José Sebastião é uma pessoa simples, pés no chão, mas que sabe viver a vida, percebo que procurou oferecer o que tem de melhor para os filhos, um cara que é mesmo do bem.

Acho a oportunidade do convívio com pessoas mais velhas bem interessante, muito bacana o quanto podemos aprender simplesmente ao escutar, e ainda melhor quando é possível bater um papo mesmo, imagina quando essa pessoa, tão mais experiente está aberta também a te escutar, e muito mais, a aprender com você, é fantástico!

Ao longo dessa jornada como Personal Financeiro, algo como consultor, mentor ou planejador financeiro, nunca me importei com o título, mas sim com aquilo que o meu trabalho tem o potencial de proporcionar, de transformar a vida das pessoas, me deparo com os mais diversos perfis de diferentes estados, classes sociais, desafios e claro idades também, por mais que exista uma predominância maior numa determinada faixa, o público é de fato bem diversificado, o que me permite aprender muito.

Mas voltando a seu José, ele é um sonhador, mas não quero dizer que ele apenas sonha, ele realiza, corre atrás, e mesmo com mais idade está bem longe de ter desistido da vida, dos seus planos e dos seus sonhos mesmo, afinal como bom "fazedor" que é, ele está procurando fazer acontecer mais daquilo que gosta e que lhe dá prazer, acho sensacional!

Para isso, seu José já fazia há tempo o seu controle financeiro, porém não estava analisando da melhor forma, de fato era válido ter uma orientação, a fim de trabalhar melhor o controle que fazia, analisando de forma mais crítica e eficaz, de maneira que a partir dali pudesse fazer um plano de ações, observar os pontos de melhoria, o que otimizar no orçamento, alpara reduzir algumas despesas que tinha boas possibilidades para isso, como a conta de celular, anuidade do cartão de crédito, internet, isso mesmo, começando pelo básico, entre as demais despesas fixas, variáveis e as que ele considerava extras e em alguns casos já nem eram, pois recorrentemente estavam no seu mês, e precisavam de um espaço no orçamento.

Mas a questão não era apenas técnica, e na verdade,raramente, a mudança vem só de olho nos números. Sim, eles são bem importantes, mas o lado comportamental é que deságua no resultado financeiro, e seu José se permitiu mergulhar bem nisso, entendendo melhor as decisões que tomava no dia a dia, e que refletiam nas suas despesas, assim como o uso do cartão de crédito, das compras parceladas.

E com esse mergulho foi possível perceber o quanto podia evoluir com pequenas mudanças que sim, tem o poder de trazer resultados bem interessantes.

E lembro bem do dia que refletimos sobre os grandes naufrágios que aconteceram pelo mundo, e que a maioria deles não foi causada por grandes impactos, mas por pequenos buracos.

Isso mesmo, pequenos buracos afundam grandes navios, e o orçamento de muitas famílias também.

A ideia é que seu José esteja fora dessa, a fim de que possa absorver os gastos com saúde, entre outros imprevistos que surgem no dia a dia.

E aqui estou para apresentar seu José, por mais pessoas como ele, por mais pessoas sonhadoras, e que tem o prazer de viver intensamente, sempre abertas ao aprendizado e de olho no amanhã.

Abraço e até a próxima!

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

O CARLITOS BURGUER DA TORRE

Redação Gazeta da Torre


Como afirmam muitos pesquisadores do assunto, as origens do hambúrguer são incertas e permeadas de mitos e histórias, porém é bem provável que ele tenha sido preparado pela primeira vez da maneira como o conhecemos hoje em fins do século XIX ou começo do século XX. O hambúrguer moderno é derivado das necessidades culinárias de uma sociedade que mudava rapidamente devido à industrialização e, portanto, usufruía de menos tempo para o preparo de alimentos e consumo das refeições.

Grande parte do motivo pelo qual sua história é controversa deve-se ao fato de que os americanos disputam o título de terem sido os primeiros a combinar duas fatias de pão com um bife de carne moída, formando um "sanduíche de hambúrguer".

Já, aqui na Torre, o título de melhor hambúrguer da nossa região, é disputado de maneira acirrada e saudável pelas lanchonetes Carlitos Burguer e Vila Torre Original Burguer. Ambos produzem os hambúrgueres de forma artesanal, um dos pontos fortes que fazem bastante diferença perante os apreciadores do comentado sanduíche.

Aqui, em nossa matéria, iremos falar, aos nossos leitores do Gazeta da Torre, sobre a Lanchonete Carlitos Burguer, do nosso amigo Carlos Costa Cavalcanti, o famoso Carlitos.
 Carlitos em sua área de trabalho
Sua história de trabalho, no segmento que lhe tornou famoso, iniciou por volta de 1986 na cantina do conhecido Colégio Decisão. Lá, a luta já era grande. Atender crianças e adolescentes agitados não era tarefa fácil. Mas, no famoso horário de pico, a hora do recreio, Carlitos tinha uma carta na mão, a dedicada ajudante de nome Joseane Iara de Paula, sua companheira. Participação bastante agradável diante de tanta agitação gerada pelos alunos.

Joseane na época era bancária, e, após seu horário de trabalho, corria para a cantina onde prestava sua ajuda. Daí, já se formava uma dupla que anos depois iria fazer bastante sucesso.

Em 1994, Carlitos, com seus pequenos recursos adquiridos na cantina, instala sua primeira lanchonete na Ilha do Retiro. Um Trailer convertido em lanchonete, na Rua Senador Fábio Barros, Madalena. Espaço que passou a ser muito significativo para seu trabalho e sua história.

As coisas começaram a ficar mais puxadas. Carlitos trabalhava na cantina pela manhã e tarde, sendo que a noite trabalhava em sua lanchonete na Ilha do Retiro.

Meses de muito trabalho se passaram e, em 1996, Carlitos vende a cantina e adquire um pequeno espaço na Rua Vermelha, no bairro da Torre, que se tornaria sua central. “O espaço era tão pequeno que eu ficava apavorada para trabalhar no local”, conta Joseane, sua esposa.

Hambúrguer preparado, hambúrguer vendido, começou virar rotina. Em 1997, Carlitos inaugura a Lanchonete da Torre, outro Trailer convertido em lanchonete, agora na Rua Professor Trajano de Mendonça, 340, Torre. Era muito trabalho para pouco tempo. Tanto que em 1998, Joseane sai do banco e instala o delivery na Rua Vermelha. Vale lembrar que, na época, Joseane contava com ajuda de Dona Severina França para desfiar os peitos de frango. Hoje, sua filha Valdelane França, a Ninha, é funcionária do Carlitos e pessoa de confiança de Joseane. Coisas do destino.

Em 2002, com frutos de seu intenso trabalho, Carlitos compra um imóvel na Rua Dona Isabel de Barros, 103, Torre, onde passa a ser sua nova central.

Mas, as investidas não iriam parar por aí. Em dezembro de 2013, com muita determinação, Carlitos e sua esposa Joseane conseguem superar as burocracias que, por incrível que pareça, um trabalhador e pequeno investidor que tem seus impostos em dia ainda enfrenta (*O tempo para o projeto ser aprovado foi de 2 anos). E inaugura uma estonteante lanchonete na Avenida José Gonçalves de Medeiros, 84, Madalena. A nova unidade fica ao lado da saída secundária do estacionamento do antigo supermercado Extra, perto do Clube do Sport.

 A lanchonete na Avenida José Gonçalves de Medeiros, 84, Madalena;
Já, no dia 13 de Maio, com frutos de seu intenso trabalho, Carlitos inaugura mais uma unidade. Outra estonteante lanchonete na Rua José Bonifácio, próxima a  Delicatessen Nova Armada. Um novo e grande presente para os apreciadores de hambúrgueres de nosso bairro.

 A mais nova lanchonete na Rua José Bonifácio - Torre;
Hoje, a Lanchonete Carlitos Burguer conta com mais de 30 funcionários, sua central com câmara fria, seus projetos de investimentos são realizados por arquitetos, nos serviços de Delivery o transporte é realizado por uma empresa especializada em entregas, as lanchonetes, como a central, seguem rigorosamente os padrões de higiene entre outras citações. 

Quando perguntamos a Joseane o que mais falta, ela respondeu: “Eu e Carlitos já estamos amadurecendo a ideia de abrirmos uma franquia”, diz sorridente. E para finalizar, a pergunta: o que é Carlitos Burguer, hoje, para vocês, diante de tantas privações passadas e batalhas incontáveis? “Quase um filho”, responde ela.

#REPOST  Gazeta da Torre

Boa gestão depende de um propósito importante, confiança nas pessoas e responsabilidade sobre o sucesso do negócio

 Gazeta da Torre

Chieko Aoki

Para a presidente da Blue Tree Hotels, Chieko Aoki, alguns valores fundamentais para o sucesso do empreendimento podem guiar quem busca adentrar a jornada do empreendedorismo, como a responsabilidade pelo sucesso do negócio, a confianças nas pessoas, o reconhecimento das oportunidades certas, a criação de um círculo de laços – isto é, de conexões – e a identificação de um propósito.

 “A palavra ‘propósito’ é muito simples, mas se trata de saber para onde se está indo, se aquilo que estamos fazendo tem importância. Eu, por exemplo, criei um método de hospitalidade. Isso faz parte do meu plano de melhorar a qualidade de serviços no Brasil, agregando as qualidades do País às técnicas, aos procedimentos e ao aprendizado”, afirma, na segunda entrevista da série especial do Mês da Mulher, comandada pela jornalista Raquel Landim, do  Canal UM BRASIL, uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

Uma das estratégias implementadas por ela, inclusive, foi a adoção de elementos culturais de algumas regiões do mundo em seus negócios: a rigidez estadunidense com normas e processos; o espírito de “servir a reis e rainhas” e a elegância no atendimento dos europeus; e os elementos mais místicos e formais dos asiáticos, em particular os japoneses, como considerar o cliente um “presente divino”. “São coisas diferentes, mas que formam uma hotelaria melhor e dão mais capacidade para entender os clientes. A flexibilidade cultural me ajudou muito a compreender o nosso papel, o que tínhamos de fazer com determinadas culturas, bem como o que os clientes gostariam que fizéssemos. Esta mistura tem sido útil na busca de uma solução de hospitalidade que fosse brasileira. Um dos meus objetivos é criar a hospitalidade brasileira com as características universais que todos os clientes gostam.”

Outra das iniciativas dela, por exemplo, voltada às mulheres, foi a criação de um cargo que cuidasse das relações com as hóspedes, a fim de ajudar sobretudo as clientes a se sentirem mais à vontade dentro de um hotel. “Antigamente, não havia esta liberdade. As mulheres comiam no quarto, pois se sentiam constrangidas de entrar no bar”, lembra.

No bate-papo, a presidente da rede hoteleira ainda avalia a falta de espaços para mulheres liderarem negócios e empreendimentos. “Há barreiras transparentes, mas que existem, as quais as mulheres precisam romper. Uma coisa que hoje já não soa tão natural é uma fotografia [em um ambiente corporativo] composta somente por homens. Os líderes homens geralmente só indicam outros homens. O salto precisa ser grande, de forma que mais mulheres na liderança possam ‘puxar’ outras”, enfatiza a presidente da Blue Tree.

Turismo como política de Estado

Especificamente a respeito do setor de turismo em uma visão macro, a CEO comenta que os planos para o sucesso ainda envolvem estratégias mais duradouras, tendo em vista que a concorrência é internacional. “Quando o país não tem nenhum recurso, recorre ao turismo, pois sempre há algo diferente para mostrar. Como valorizar isso? Criando infraestrutura e um investimento de longo prazo consistente. É necessário um plano de Estado para o turismo.”

Além disso, ela pondera ser relevante fundamentar todo um processo de educação da sociedade sobre como receber turistas. “Eu vi este exemplo quando, nas Olimpíadas do Japão, as escolas primárias ensinavam as crianças. Todos estavam preparados para explicar o que tem em sua cidade, mostrar caminhos. É um trabalho de conscientização nas escolas, nos negócios e na sociedade”, conclui.

Fonte: UM Brasil

- divulgação -



terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Grazing: o que o hábito de beliscar comida pode revelar sobre a nossa saúde mental?

 Gazeta da Torre


A prática de beliscar comida de modo contínuo, ao longo do dia, mesmo sem fome, é conhecido como grazing. Identificar esse comportamento pode ajudar a prevenir transtornos associados a problemas psicológicos e alimentares.

Essa é a conclusão do estudo de doutorado "Comportamentos alimentares nos contextos comunitário e de sobrepeso e obesidade: compreensão e avaliação do Grazing", defendido na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, em março, pela psicóloga Marília Consolini Teodoro, sob orientação da professora Carmem Beatriz Neufeld.

A pesquisa mostra a importância do trabalho preventivo de regulação emocional para prevenir a manifestação desse tipo de comportamento.

Marília explica que o grazing, tema pouco estudado no Brasil, é o nome dado a comer quantidades pequenas ou modestas de alimentos de maneira repetitiva e não planejada, sem ser em resposta à sensação de fome ou saciedade, com algum nível de sensação de perda de controle. Segundo a professora Carmem, “em um primeiro momento, não é necessariamente um comportamento problemático ou associado a uma psicopatologia”. Mas explica que pode gerar desdobramentos associados a “uma maior probabilidade de desenvolvimento de uma psicopatologia, de uma patologia do comportamento alimentar”.

Por isso, a identificação desse comportamento, aponta a pesquisadora, poderá proporcionar “novas investigações para intervenções mais direcionadas, principalmente na área dos problemas alimentares”.

Assim como abordagens multifatoriais para tratar essas condições, que, “muitas vezes, não são consideradas um transtorno mental, mas estão extremamente relacionadas com condições psicológicas”, para que os pacientes sejam cuidados de forma integrativa e os resultados sejam mais efetivos.

O estudo colocou como hipótese o entendimento de que o grazing funciona como um mecanismo de regulação emocional para o alívio de ansiedade, por exemplo. Outros estudos já associaram o comportamento, principalmente, com a obesidade, a dificuldade de perder peso e outros tipos de transtornos alimentares e sintomas depressivos e ansiosos. “O peso está extremamente relacionado com condições psicológicas, assim como condições comportamentais, como é o caso desse comportamento em específico”, afirma Marília.

A pesquisadora investigou e avaliou a manifestação desse comportamento na população brasileira, com uma amostra comunitária de 542 pessoas, em que a maioria estava em nível de peso considerado normal, e uma amostra clínica de 281 pessoas, com participantes que apresentavam algum nível de obesidade.

Marília conta que as amostras foram comparadas para “entender também se havia alguma diferença na manifestação desse comportamento”. Na amostra clínica, o grazing foi mais prejudicial, mas também se manifestou de forma significativa na amostra comunitária, o que indica “a relevância desse comportamento no Brasil”.

As pesquisadoras dividiram a manifestação desse comportamento em dois grupos: o grazing repetitivo, que ocorre de forma contínua, porém mais leve, menos prejudicial e menos associado à perda de controle; e o grazing compulsivo, mais associado à perda de controle e a sintomas psicológicos.

Outro resultado que chamou a atenção das pesquisadoras foi que o estresse apresentou uma variação do grazing compulsivo, mais associado à perda de controle. “Então a gente entende que o estresse parece ser uma variável que colabora, que está relacionada com a manifestação desse comportamento.”

Adaptação e validação de questionário

Para a pesquisa foi utilizado o Repeat Questionary (Rep(eat)-Q), ferramenta que investiga a relação do grazing com o Índice de Massa Corporal (IMC) e a psicopatologia. O IMC é um índice usado mundialmente para saber se uma pessoa está em seu peso ideal, dividindo o peso pela sua altura ao quadrado. O questionário foi adaptado e validado pelas pesquisadoras para a população brasileira, mediante etapas de avaliação e estudo piloto, até chegar à versão final adaptada como Questionário de Belisco Contínuo. Foi aplicado também um questionário sociodemográfico e um questionário de avaliação de sintomas ansiosos, depressivos e de estresse.

Ao todo, a pesquisa contou com quatro etapas. Na primeira, as pesquisadoras traçaram um panorama sobre a avaliação psicológica de transtornos alimentares e problemas alimentares associados, apresentando o conceito de grazing e os instrumentos disponíveis para a avaliação. A segunda foi uma revisão da literatura sobre o tema e as definições usadas, população estudada, prevalência e associações já encontradas sobre o comportamento, além das lacunas que ainda existem sobre a questão. Já a terceira foi a adaptação e validação do questionário para a população brasileira e, para finalizar,  a aplicação nas amostras comunitária e clínica, além de análises de comparação entre elas.

Fonte: Jornal da USP

- divulgação -

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

O antissemitismo reciclado: preconceitos seculares alimentam o germe da intolerância

 Gazeta da Torre

Por Maria Luiza Tucci Carneiro, Historiadora e professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP

Em situações de crise – como esta em que o Brasil vive, abalado pelas fragilidades da nossa democracia –, constatamos que a polarização radical compromete a vida e negligencia a morte. É neste contexto que avalio o discurso antissemita e as acusações de genocídio feitas pelo presidente Lula da Silva ao Estado de Israel e ao povo judeu. Suas declarações emergem como uma terrível combinação de ingredientes clássicos que compõem o discurso antissemita de raiz, (re)alimentando versões deturpadas da História. Não foi por acaso que o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, afirmou que Lula é persona non grata em Israel até que se desculpe em relação à sua fala comparando a atuação atual de Israel ao Holocausto.

Após o ataque empreendido pelo grupo terrorista Hamas contra a população civil de Israel em 7 de outubro de 2023, a banalização do Holocausto ressurgiu em meio aos discursos do presidente Lula reciclados como arma política contra o Estado de Israel e à comunidade judaica como um todo. É fato que, desde outubro de 2023, o antissemitismo maquiado de antissionismo ganhou status de verdade, sendo disseminado por uma legião de racistas que sustentam discursos acusatórios sem a real dimensão das consequências.

Neste contexto, o antissionismo que mascara o “antissemitismo de raiz” assimilado por Lula deve ser interpretado como uma recaída da postura do governo brasileiro simbolizando um retrocesso na nossa luta contra o racismo, o negacionismo e a xenofobia. Recupera-se, assim, a histórica tensão entre antissemitismo/antissionismo e os ideais democráticos. As frases aleatórias e descontextualizadas que Lula tem empregado contra o Estado de Israel têm despertado sentimentos antijudaicos por parte dos seus correligionários e, ao mesmo tempo, têm gerado uma certa decepção naqueles que votaram no PT. Daí a importância de investirmos contra o negacionismo de natureza ideológica e contra o antissemitismo que, enquanto uma forma de racismo, tem servido aos grupos, tanto de direita como de esquerda, que atuam no cenário político nacional e internacional.

Independente de qualquer sigla partidária, negacionistas e antissemitas sempre tentam impor suas “visões de mundo” deturpadas pela ignorância dos fatos. Dessa forma, instigam a violência e o ódio, negando e/ou ignorando a verdade dos fatos históricos, dentre os quais o Holocausto, genocídio singular na história da humanidade. Os grupos signatários dos “tratados negacionistas” devem ser qualificados como uma espécie de “perpetradores da memória”, que por ignorância ou interesses políticos tentam sustentar falsas versões. Interessa a essas lideranças gerar uma multidão de desmemoriados, alienados e despossuídos de espírito crítico.

É evidente que a ignorância favorece o avanço de movimentos “antis” que, valendo-se das crises sociais, vêm a público no formato de discursos de ódio. Assim, sob este viés, poderemos avaliar a proliferação de novas cepas de perpetradores das mais distintas linhagens: racistas, revisionistas, negacionistas, populistas, neonazistas, fascistas, dentre outros “istas” e “ismos”. O debate sobre este tema passa, necessariamente, pela compreensão dos direitos humanos, levando-nos a refletir acerca da responsabilidade do Estado sobre a vida do cidadão.

Aqui retomamos o tema da banalização do Holocausto: o fato do Holocausto ser uma categoria única dentre tantos outros genocídios, tem servido aos negacionistas, neonazistas e antissemitas para desmoralizar os testemunhos das vítimas, dentre as quais temos seis milhões de judeus assassinados pelos nacional-socialistas e colaboracionistas. Aliás, esta é mais uma das razões para o Estado brasileiro estimular (e não negar) a memória pública de um dos episódios mais abomináveis da história: o Holocausto, além de estimular o processo de implementação de dois Estados: o Estado de Israel e o Estado Palestino.

Neste Brasil multirracial – que desde o seu descobrimento convive com o racismo (histórico e estrutural) e a discriminação contra negros, judeus, indígenas, ciganos, doentes mentais e dissidentes políticos – fica difícil falarmos em uma política de intolerância zero, pois esse ódio, assim como a ignorância, tem raízes seculares neste país. Se por um lado as lideranças políticas têm dificuldades em assumir a verdade histórica e promover a justiça social, por outro, os negacionistas aproveitam-se das redes sociais para instigar o linchamento virtual daqueles que clamam pelos seus direitos, incluindo o direito à vida e o direito de existir enquanto nação.

Essa equidistância pragmática herdada do governo Vargas foi retomada em 1975, quando o governo brasileiro, atingido pela crise mundial do petróleo, optou por uma postura radical: votou na Assembleia Geral da ONU a favor da Resolução n. 3379, que qualificava o “Sionismo como forma de racismo e discriminação racial”. Com o fim da Guerra Fria alguns países árabes e muçulmanos, junto com Cuba, Coreia do Norte e Vietnã, não mudaram suas posições apesar da Resolução n. 4686, de 1991, ter anulado a decisão da Resolução n. 3379.

A grande guinada do Estado brasileiro no reconhecimento da centralidade do racismo na estruturação das desigualdades sociais foi dada em 2001, por ocasião da 3ª Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância, promovida pela ONU em Durban, na África do Sul. Em meio ao debate, os países árabes tentaram desviar o foco da reunião ao comparar, novamente, o sionismo ao racismo. Felizmente, no documento final, os países participantes, incluindo o Brasil, proclamaram que o Holocausto não deve ser nunca esquecido, além de condenarem a persistência e o reaparecimento do neonazismo, do neofascismo e das ideologias violentas baseadas em preconceitos raciais ou nacionais. Declararam, por consenso, que esses fenômenos “não se podem justificar em qualquer caso, nem em qualquer circunstância”.

Atualmente – analisando as recentes falas do presidente Lula da Silva classificando as ações de Israel como genocídio, comparando-as ao Holocausto [sic] – constatamos que o eixo de argumentação emerge desfocado, destituído de saber e do sentimento de humanidade que privilegia o direito à vida. O Holocausto não deve ser visto como um “item ocasional da conduta do Terceiro Reich na Segunda Guerra Mundial”, e sim como uma política meticulosamente planejada pelas lideranças do Estado nacional-socialista alemão e executado por meio de aparatos repressivos do poder, como a polícia e a censura. Calculismo, burocracia, antissemitismo e fanatismo foram ingredientes que garantiram sucesso à fórmula acionada por Adolf Hitler, que, a partir de 1933, encontrou um ambiente de crise propício à proliferação de suas ideias antissemitas.

Daí a importância de distinguirmos o que realmente foi o Holocausto, que, pela força de suas singularidades, é hoje considerado como um genocídio sem precedentes na história da humanidade: exatamente por ultrapassar a ideia de “tragédia judaica”, por envolver outras minorias em diferentes escalas e, ao mesmo tempo, por trazer para o debate a questão humana, ainda que irrepresentável em sua absoluta excepcionalidade, como querem alguns.

Enfim: não podemos dar chance à proliferação da mentira que fundamenta a “teoria da cegueira”. Antes de empregar de forma irresponsável as palavras Genocídio e Holocausto, todo cidadão deve estar atento às persistências e ambiguidades dos discursos racistas. Tais “enganos” corroem a democracia alimentando visões distorcidas com o propósito de acuar, perseguir, isolar e, até mesmo, exterminar aqueles que não se encaixam no modelo idealizado como “normal”. Revisitando o nosso passado e avaliando a atual crise humanitária vivenciada por israelenses e palestinos na Faixa de Gaza durante o conflito Israel versus grupo terrorista Hamas, questiono: a quem serve a cultura da ignorância que privilegia o terror e a mediocridade?

Uma coisa é certa: a ignorância mata, sendo hoje uma espécie de “vírus” que abre fissuras para a proliferação de novas cepas racistas das mais distintas linhagens. Enquanto resíduos criptografados no inconsciente coletivo, os arquétipos antissemitas sugerem (e instigam) os seres humanos a endossar ações para a violência e o ódio sem limites. Assim, considero que, atualmente, os mitos sobre os judeus emergem reciclados, simultaneamente e em várias partes do mundo, corroídos por preconceitos seculares que carregam nas suas entranhas o germe da intolerância. Para a escala do ódio basta um passo.

Fonte: Jornal da USP