quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Privatização do espaço público no CARNAVAL

Eliane Costa
Camarotes sendo montados na Av Dantas Barreto (Recife)
 para o desfile do Bloco do Galo da Madrugada

“Tudo roda em função da TV”, afirma historiador

O carnaval de Recife nesta sexta-feira (9/2) e deve reunir milhares de pessoas até a manhã da quarta-feira de cinzas (14/2). Antes apontada por muitos como uma das mais democráticas do mundo, a festa vem sofrendo com a profissionalização da folia e a explosão do número de camarotes, que acabam restringindo ainda mais o pouco espaço para o folião.

O crescimento do número de participantes sem o relativo aumento do espaço físico para a festa é uma das explicações mais utilizadas para justificar o fenômeno, que afasta um número cada vez maior de soteropolitanos do carnaval, tornando-o um evento para turistas. São cerca de milhares neste período, segundo a Secretaria Estadual de Turismo.

“Estatísticas mostram que uma grande parte da população não vai ao carnaval. Ai você encontra motivos religiosos, os idosos, que não possuem mais o vigor físico exigido pelo carnaval, mas, principalmente, eu acho que esta é a questão política fundamental, porque brincar o carnaval nos circuitos oficiais é muito caro para a maioria da população...”, afirmou o professor e historiador Ubiratam Castro.

Para ele, o grande desafio é criar as condições para que toda a população possa ver as grandes atrações do carnaval. “É preciso ter espaço, mas não necessariamente este espaço dos atuais circuitos... Tudo isso, levando em conta que o carnaval é uma coisa para o povo, então é o Estado que tem que vim pela frente, pagando e abrindo o caminho”, defende.

O historiador acredita que não há como multiplicar o espaço nos circuitos. “Não é só a questão do espaço, mas do carnaval ser afirmado como universal. E aí você vê a contradição. A única forma do carnaval ser afirmado como universal é pela TV. Então, o carnaval se tornou um espetáculo, tudo roda em função da TV. Esta é uma contradição, principalmente para a Prefeitura, que é dona do carnaval. “, argumenta.

Já o urbanista e professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia, Marcos Rodrigues, tem uma visão diferente da questão. Para ele, o que tem afastado os soteropolitanos do carnaval é a falta de espaço para aproveitar a festa sem precisar comprar ingresso para camarotes. “O que nós percebemos é a privatização crescente do espaço público, principalmente pelos camarotes. O espaço do trio elétrico já era de certa forma a privatização da área pública, das vias onde as pessoas que não estão no bloco saem para se divertir, mas, sobretudo, do tamanho exponencial que os camarotes vem tomando”, disse.

“A gente tem um modelo de festa que está privilegiando grandes estrelas, os camarotes que não estão exatamente no clima do carnaval, mas sim são verdadeiras casas noturnas ou boates montadas, completamente alheias à folia como um todo. É evidente que é possível privilegiar outros modelos e privilegiar outras partes da cidade”, ressaltou Rodrigues.

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