segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Cidades high tech

A tecnologia para melhorar a vida nas metrópoles vai gerar US$ 40 bilhões em negócios nos próximos quatro anos. E desde já o Brasil está no radar dos projetos.

Por Rodrigo CAETANO


Na década passada, mais de dois milhões de brasileiros deixaram o campo para viver nos grandes centros urbanos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa massa de trabalhadores em busca de oportunidades — e com o sonho de aproveitar os confortos proporcionados pela infraestrutura das metrópoles — está transformando o Brasil em um país cada vez mais urbano. Quase 85% da população nacional, o que corresponde a mais de 160 milhões de pessoas, atualmente vive nas cidades. Ao mesmo tempo, e na mesma proporção, crescem os problemas que assolam os moradores dos grandes conglomerados urbanos, como o trânsito caótico, a poluição, a violência e a falta de capacidade dos governos em prover serviços básicos.

É nesse contexto que o Brasil se prepara para sediar a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. A julgar pelos problemas enumerados acima, não será fácil arrumar a casa para receber os turistas que chegarão para os dois eventos. Mas há uma maneira de tornar esse desafio menos tortuoso. E ela passa pelo uso da tecnologia, o que abrirá grandes oportunidades de negócios em 2012. Algumas capitais brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, já estão investindo em um conceito chamado de cidades inteligentes. A ideia é que, por meio de softwares e produtos de medição, os gestores municipais tenham total controle sobre os equipamentos urbanos, as vias, a infraestrutura de abastecimento e até sobre o uso do solo. Assim, será possível monitorar o dia a dia dos municípios e também planejar o seu desenvolvimento.


“Por meio da tecnologia, uma cidade inteira é transportada para dentro do computador”, afirma Acir Marteleto, diretor-geral para o Brasil da Autodesk, empresa americana de soft-wares de desenhos. Para entender o que é uma cidade inteligente, o ponto de partida é conhecer os dois pilares que sustentam o conceito. O primeiro diz respeito às ferramentas de monitoramento, que fornecem, em tempo real, um retrato fiel do que acontece numa determinada região. Um exemplo disso são as câmeras que acompanham o trânsito e os sistemas que identificam problemas nas redes de energia elétrica. O segundo pilar é a infraestrutura. Em uma região com esse tipo de tecnologia, todas as construções são pensadas de forma integrada, a fim de reduzir ao máximo os impactos ambientais e trazer o maior conforto possível.

Uma pesquisa feita pela consultoria americana ABI Research mostra que, em 2010, o investimento mundial em tecnologias para cidades inteligentes ultrapassou US$ 8 bilhões. Até 2016 esse mercado deve movimentar US$ 40 bilhões. Atualmente, segundo a consultoria, existem no mundo 108 projetos desse tipo, dois deles no Brasil: um no Recife e outro no Rio de Janeiro. A metrópole carioca firmou, em 2010, um convênio com a IBM para a criação de um núcleo de gerenciamento de informações. Nele, a prefeitura da cidade terá à disposição informações integradas de órgãos municipais e concessionárias de serviços públicos. Com isso, poderá montar um sistema de alerta sobre riscos naturais e acidentes. Em Pernambuco, o projeto compreende a área no entorno da Arena Pernambuco, estádio que será um dos palcos da Copa de 2014.

O objetivo é ter um bairro sustentável energeticamente e que conte com recursos de governo eletrônico. O projeto tem como parceira a Nec, empresa japonesa de telecomunicações. Apesar de não ter nenhum programa estruturado, São Paulo possui algumas iniciativas nessa área. A concessionária de energia elétrica Eletropaulo está investindo R$ 4 milhões em um projeto-piloto para utilizar em parte de suas linhas de energia uma tecnologia chamada smart grid, ou rede inteligente. Esse tipo de serviço transforma as linhas de energia elétrica em uma espécie de rede de dados. Segundo Luis Cesar Verdi, presidente da empresa de software SAP, no Brasil, essa é uma área em que as companhias energéticas mais investem. “Temos recebido diversas consultas de concessionárias interessadas no smart grid”, afirma. A tecnologia, porém, é apenas um dos pontos que podem tornar uma cidade mais inteligente. A capital paulista também aposta em sistema de mapeamento de solo.

No Exterior, um dos projetos mais badalados é o do município coreano de Songdo, que está sendo construído do zero. Songdo foi planejado para ser um centro internacional de negócios e vai receber investimentos de US$ 35 bilhões. Tudo na cidade é pensado de maneira integrada. A meta é que a emissão de carbono seja 15% menor em relação a outras regiões urbanas. Além de gerarem desconforto e prejudicarem o meio ambiente, as infraestruturas não inteligentes desperdiçam rios de dinheiro. Uma pesquisa da consultoria americana McKinsey & Co. estima que, transformando os atuais edifícios dos Estados Unidos em estruturas inteligentes, seria possível economizar em uma década US$ 640 bilhões, o equivalente ao orçamento de defesa dos Estados Unidos. Não é pouca coisa, assim como também são alentadoras as perspectivas de lucros com novos projetos no setor.

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