Gazeta da Torre
É neste mês que o Mercado da Madalena celebra seu
centenário. Sua construção teve início em 6 de fevereiro de 1925 e foi
inaugurado em 19 de outubro do mesmo ano. Antes de sua existência, havia no
local uma feira livre conhecida como “Feira do Bacurau” — referência ao horário
de funcionamento e ao pássaro de hábito noturno —, frequentada por boêmios e
comerciantes do bairro. A desordem da feira e a falta de higiene fizeram com
que os moradores da localidade exigissem da Prefeitura a construção de um mercado.
E ela o ergueu, bonito!
Lembro-me de quando eu e meu irmão, ainda crianças, nos
anos 1960, éramos levados por nosso pai aos domingos para passear nas ruazinhas
internas do mercado. Tomávamos caldo de cana, comíamos pastéis e ficávamos
admirando os aquários de peixes coloridos, as gaiolas repletas de passarinhos e
os animais domésticos e silvestres. A variedade era imensa: gatos, cachorros,
galináceos, periquitos, papagaios, araras, coelhos, porquinhos-da-índia,
pavões, patos, lebres e até espécies mais selvagens, como o gavião-carcará e a
coruja-rasga-mortalha — eram oferecidos aos passantes dentro e fora do mercado.
Chegavam até a vender jiboias para quem tivesse o “bom gosto” e a coragem de
levar uma para casa. Meu irmão e eu fazíamos a maior festa quando conseguíamos
convencer nosso pai a comprar um passarinho — tínhamos algumas gaiolas no
quintal de casa.
Com o passar dos anos, o entorno do mercado se
transformou. No lugar das antigas casas das ruas vizinhas, surgiram imponentes
arranha-céus — embora algumas ainda resistam à modernidade. A rua Real da Torre
deixou de ser mão dupla e hoje é marcada pelo intenso tráfego de veículos e
pedestres. O próprio mercado também evoluiu. Suas ruazinhas internas ganharam
paralelepípedos e cobertura, e os boxes tiveram suas fachadas renovadas,
modernizando o espaço sem apagar seu charme centenário.
No espaço externo, colado a ele, há uma comedoria com
vários boxes (barzinhos) ofertando o sabor da comida regional, funcionando dia
e noite. Os apreciadores da culinária nordestina deleitam-se com os pratos
servidos generosamente e a preço popular. Internamente, o mercado permanece
gracioso e limpo.
Aos sábados e domingos, ele se enche de gente. Muitas
crianças, com seus pais, se encantam com os bichos — a maioria de pássaros e
peixes ornamentais. Formam-se filas no balcão das duas peixarias para se
comprar o melhor pescado da cidade — o preço é sempre em conta.
O Bar de Marília, aos sábados, é muito bem frequentado.
Há música ao vivo e espaço para dançar e cantar músicas de bom gosto,
saboreando petiscos regionais e bebendo cerveja gelada.
Não há dia, porém, que eu chegue ao mercado e não
encontre uns ou outros amigos, aposentados como eu, tomando uma breja para
matar o tempo numa boa prosa. Tem até a “Segunda Sem Lei”, um evento organizado
pela “Confraria dos Amigos da Madalena” que, às segundas-feiras, se reúne para
celebrar a vida, comendo e bebendo nas mesas do Bar de Marília ou no “Bar dos
Cornos”.
Cem anos se passaram, muitos já se foram, outros chegaram
e eu envelheci. O Mercado da Madalena, no entanto, permanece jovem, cheio de
charme e vida, ofertando manhãs e tardes aprazíveis aos seus visitantes. Ele é
o aniversariante do mês, mas quem recebe os presentes somos nós, os que
desfrutam de sua graça em manhãs e tardes aprazíveis.
Sendo assim, eu faço um brinde, levantando uma taça transbordando agradecimentos: “Feliz aniversário, meu jovem senhor, que venham muitos e muitos centenários!”
Por José Fernando Maia, escritor
Colaborador Gazeta da Torre
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